Governo de Goiás propõe a criação de dois colégios militares em Trindade

Projeto do governador Marconi Perillo que transforma os Colégios Estaduais Divino Pai Eterno e Alfa e Ômega em Colégios Militares está tramitando na Assembleia Legislativa


Reprodução de post do vereador Agnelson Alves no Facebook.



Sem exagero algum, pode-se afirmar que Trindade foi tomada de surpresa na noite desta terça-feira (19) pela notícia de que os Colégios Estaduais Divino Pai Eterno (Vila Pai Eterno) e Alfa Ômega (Jardim Ipanema) serão transformados em Colégios Militares. A informação foi publicada no perfil do vereador Agnelson Alves (PV), no Facebook. A transformação poderá ocorrer por obra e graça de Projeto de Lei de autoria da Governadoria do Estado, assinado por Francisco Oliveira (PSDB), deputado estadual e líder do governo na Assembleia Legislativa de Goiás, que tramita naquele poder.

As iniciativas com a chancela do governador Marconi Perillo (PSDB) colocadas à apreciação dos deputados estaduais costumam ser aprovadas assim como que num estalar de dedos. Afinal de contas, a bancada governista no Legislativo goiano é esmagadora. Duvida? Bobagem sua, internauta incrédulo. Veja bem que dos 41 parlamentares na Casa, no mínimo, 30 deputados integram a base de apoio do governador. Percebeu a força governista no Palácio Alfredo Nasser?

Dia desses (10 de agosto) demos notinha neste blog sobre a visita a Trindade (dia 8 de agosto) realizada pelo deputado Francisco Oliveira, quando, estando Sua Excelência na “Capital da Fé”, entabulou conversas com o Comandante do 22º Batalhão da Polícia Militar de Goiás (BPM-GO), Major Ênio José Carlos Hans, vereadores, prefeito e lideranças. Na ocasião, falou-se das reivindicações da criação de Colégio Militar em Trindade e até da construção de um colégio no bairro São Bernardo, que contaria já com a autorização de Raquel Teixeira, secretária da Educação e Cultura de Goiás (SEDUCE).

Ah, sim! Na mesma notinha mencionada acima salientamos que os pedidos referenciados no parágrafo anterior contavam com apoios do prefeito de Trindade e de Tayrone Di Martino (PSDB), secretário de Governo do Estado de Goiás. Finalizamos deste modo aquele post: “Se tanta autoridade assim quer porque quer, porque quer mesmo a criação de colégio militar em Trindade, qual obstáculo para isso virar realidade?” Temos a resposta agora, qual seja, nenhum óbice!

Curiosa a decisão de transformar o Colégio Divino Pai Eterno em Colégio Militar porque se trata do mais tradicional centro de ensino médio da rede pública estadual, e que ostenta bons indicadores, diga-se de passagem. O Colégio conta com alguma coisa ao redor de 1,3 mil alunos no ensino médio, em três turnos. E conseguir vaga ali não é fácil, pois a procura é grande, certamente por causa da inquestionável qualidade de ensino oferecido por um batalhão de ao menos 95 servidores, destes, alguma coisa em torno de 45 competentes professores.

Como gostava de arguir aquele famosíssimo mestre na ficção televisa produzida no México e de estrondoso e imorredouro sucesso no Brasil, o Professor Girafales, “porque causa, motivo, razão ou circunstância” se escolheu militarizar o ensino médio do Colégio Divino Pai Eterno, o maior de Trindade e que cumpre bem sua missão, e não outro estabelecimento qualquer? Note, a propósito, que esta pergunta deverá ser feita seja lá qual for o Colégio escolhido, sem que as autoridades digam com todos os efes e erres quais foram os critérios adotados para se decidir. Uái, pensando cá com meus botões. Poderia fortalecer a rede de ensino pública deixando o Colégio Divino Pai Eterno como tem estado, lá se vão 64 anos desde sua fundação no distante ano de 1953 pelos padres redentoristas, e transformando um outro estabelecimento para elevar a qualidade da rede, argumento que se usa para justificar a atuação da Polícia Militar goiana no ensino médio. Mas Suas Excelências estão aí a nos guiar rumo ao futuro, né? Pois é, pois é, pois é.

Por sua vez, o Colégio Estadual Alfa Ômega, que funciona na Jardim Ipanema, atende a um contingente de, mais ou menos, 1,0 mil alunos passando pelos níveis de ensino fundamental e secundário. Falando ontem à noite com a vereadora Aninha Carvalho (SD), que tem fortes ligações com aquele colégio e trabalha muito, há muitos anos, visando alcançar o objetivo de transformar a unidade em Colégio Militar, fomos informados por ela que este é “um projeto com forte apoio inclusive da população da região leste”.

O objetivo desta notinha aqui não é botar em dúvida os resultados produzidos pelos Colégios Militares goianos (longe, muito longe disso) que, segundo reportagens produzidas até mesmo por grandes veículos da imprensa nacional, são excelentes e muito desse notável desempenho tem relação com a disciplina e respeito à hierarquia, características destes centros de ensino sob a gestão militar. Contudo, vale a pena chamar a atenção para o aspecto a seguir.

Quem atua nas escolas civis sabe muito bem que se um aluno, digamos, chega sem estar vestido com a camiseta de uniforme num colégio estadual qualquer e um gestor ou coordenador ali não permite a entrada do estudante, está armada uma confusão dos diabos. Não é de se espantar caso desça uma ordem superior na forma de uma bronca homérica no gestor. Olha que um fato deste pode virar ação movida pelo Ministério Público também. Claro, familiares de um aluno nessa hipotética situação costumam dizer cobras e lagartos para professores e servidores administrativos. É um deus nos acuda com potencial para render matérias jornalísticas, sobretudo em programas de televisão. Numa unidade de ensino militar, coisas assim acontecem? Acho que não. E se ocorrem ninguém chia, fica todo mundo pianinho. É ou não?

Mas andemos para concluir este post que ficou longo demais da conta. Só lembrando que falamos em surpresa lá no parágrafo inicial e parece que não exageramos. Maria Dasdores da Silva Costa, coordenadora Regional de Educação, nos relatou, via mensagem por Whats App, ainda na noite desta terça-feira (19), que “não fui oficialmente informada”. A principal gestora da rede pública de ensino estadual em Trindade, afirmou ainda que “até a presente data não recebi orientações da SEDUCE a respeito da implantação do Colégio Militar” e, em tempo, complementando, disse a coordenadora, “recebi um documento que trata do veto pelo governador, quanto à criação de CPMG”. Por agora é isso, mais não digo nem me foi perguntado.


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