“A violência chegou em todo lugar, meu irmão”
“EU vivo sem saber
até quando estou vivo, sem saber o calibre do perigo.
Eu não sei d’aonde
vem o tiro.” O Calibre, Paralamas do
Sucesso.
Ouvi essa frase de um grande amigo meu aqui de Trindade
mesmo. Conversávamos sobre a impressão geral de que ninguém mais está se
sentindo seguro nem mesmo na própria casa, tenha ela muros altíssimos encimados
por cercas eletrificadas, portões eletrônicos e câmeras filmando tudo 24 horas
do dia.
Na oportunidade, eu e meu interlocutor fazíamos um
levantamento, de memória, das pessoas conhecidas por nós e que já foram vítimas
de violência urbana em suas diversas modalidades: roubo de carro, furto em
casa, assalto a mão armada, assassinato. Não é que nos surpreendemos pela
quantidade de casos então lembrados. Inclusive, é lógico, aqueles em que fomos
vítimas.
A coisa está assim. Sujeito em local público chega sem
cerimônia alguma com arma em punho, anuncia o assalto e leva o carro de luxo do
incauto da vez. Pior, levando a vítima encapuzada para um “passeio”
absolutamente indesejável, sendo libertada numa estrada vicinal dessas lá no
meio da zona rural de sabe-se lá onde. Pensa no medo, no terror, que a pessoa
sente ao se ver assim fragilizada nas mãos de gente que o noticiário não se
cansa de mostrar dia sim e outro também, que mata só pra ver o tombo.
Outro exemplo. O cara dá um duro danado, levando uma vida
correta, trabalhando dia a dia, junta uma grana, monta um negócio qualquer e
não demora nada chega o bandido batendo à porta, ou melhor, arrombando seu caixa.
E à luz do dia mesmo. Isso de circuito interno de vigilância eletrônica pouco
intimida a bandidagem hoje em dia, conforme demonstram reportagens rotineiras do
noticiário policial dos canais de televisão.
Não faz muitos dias ouvi o relato de uma jovem que estava
passeando pelas ruas centrais de Trindade em sua moto zerinha, zerinha. Coisa
mais linda do mundo. Era um sonho que a menina havia conseguido realizar: comprar
a moto, financiando em inúmeras parcelas. E a maioria delas ainda estava por
vencer. Depois de rodar pra lá e pra cá,
tomou o caminho de casa e nem notou que estava sendo seguida por dois caras
numa moto. Bastou a jovem parar diante do portão de sua casa, em bairro muito
próximo ao centro da cidade, para ouvir o fatídico anúncio: “Desça da moto, passa
a chave, o celular e fique quietinha pra não levar teco”. E lá se foi mais uma
moto integrar as estatísticas policiais.
Agora o pior de tudo, acho. Gente jovem sendo assassinada a
torto e a direito por qualquer “me dá cá uma palha”. Geralmente as drogas estão
no meio disso. Mas vale perguntar, existe alguma coisa mais valiosa para alguém
do que a própria vida, estar vivo? Todavia, temos assistido à morte de garotos,
meninos ainda, tendo como autores também carinhas adolescentes ou pouco mais do
que isso. Lamentável demais da conta. Causa medo em qualquer um. Que tipo de
homens e mulheres estão sendo formados, “nesta terra em que se plantando tudo
dá”?
Por essas e outras, penso que a frase no título dessa nota
aqui não está desconectada da nossa realidade nem tampouco pode ser chamada de
coisa exagerada. De fato, a violência está em todos os lugares e, para piorar a
situação, a gente percebe que as pessoas, de um modo geral, vão levando a vida
bovinamente acomodadas. Parece que é
assim: vamos deixar como está para vermos como é que fica. Acho que só vai
ficar pior.
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