Fé viva!

Pe. Robson: "Fé não se esconde: testemunha-se!"
“A fé vem pelo ouvir” (Rm 10, 17). Dessa forma, que a dureza de muitos corações é quebrantada, os desvios da consciência reorientados, os pecados reavaliados na ótica do Evangelho e os nossos tímpanos abertos para escutar o grito profético da Palavra de Deus clamando por conversão.

Aquele que creu, confiou e se entregou à fé, precisa ser profundamente evangelizado e não somente catequizado. Caso contrário, a fé não terá raízes concretas e críveis frente a um mundo que anda esquecido de Deus e caduco de verdades. Não se trata somente de apresentar as verdades da fé, de modo doutrinário, mas, sobretudo, de elucidar as razões destas verdades e a necessidade das mesmas na vida do cristão. Na verdade, o que está por trás é o questionamento de o porquê crer em Deus.

Fé não se prova: vivencia-se! Fé não se esconde: testemunha-se! Fé não se penhora: proclama-se! Fé não é estulta nem inepta: racionaliza-se e pensa-se! Fé não é só informação, mas também experiência!

Na medida em que fazemos a experiência de encontro com o amor de Deus é que somos alicerçados no crivo da fé. Contudo, tal experiência deve conferir maturidade ao cristão e não imaturá-lo. Há determinadas manifestações, de uma dita fé, que acaba por alienar, superficializar e até mesmo infantilizar a pessoa em sua capacidade de pensar e agir beneficamente.

A fé não é mágica. Em sua gênese está a clareza do que é real e do que é fantasioso. Muito mais que obter favores do céu, a fé se apresenta como a força motora de Deus em nós. Ela nos capacita no amor, elucida na esperança e norteia na graça. Sem fé, a pessoa humana perde o sentido da existência e, ao mesmo tempo, a expectativa de um existir diferente sob a ótica Divina.

Pela fé, adquirimos a coragem e a audácia para deixar que Deus viva em nós, acampe em nossa alma e realiza proezas em nosso coração: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3, 20). Eis um Deus que tem fé no humano, que estabelece com ele uma aliança, um casamento existencial, um cuidado eterno e afável de um pelo outro.

Muitos são aqueles que se apegam ao superficial e acabam esquecendo-se do que é fundamente para o seguimento cristão. A fé não vive do que é momentâneo, pois a sua essência é perene, uma vez que está alicerçada em Deus. Não são pregações públicas, barganhas e demais petições que nos garantirão a vida eterna. Esta começa já: aqui e agora! Nossas atitudes, quando pautadas pelo Evangelho, nos precederão no céu.

Tenhamos a mente e o coração voltados para o fundamento da nossa fé: o Deus de Jesus e reavaliemos as nossas atitudes para descobrir se as mesmas estão em consonância com o Evangelho. Não é de doutrinas vãs que vive a pessoa, todavia, da fé simples, tranquila e serena.


Pe. Robson de Oliveira Pereira (C. Ss. R.), Reitor da Basílica de Trindade e Mestre em Teologia Moral pela Universidade do Vaticano (http://twitter.com/padrerobson). Extraído do jornal “Santuário”, de Maio de 2013, pág. 2).

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