A operação que jogou luz nas sombras das negociações entre empresas e prefeituras.
A operação Tarja Preta, deflagrada
pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPE/GO), desmontou um
forte esquema de venda fraudada e superfaturada de medicamentos e
equipamentos hospitalares e odontológicos para prefeituras goianas.
A ação produziu a denúncia de 59 pessoas, entre empresários do
ramo de medicamentos, agentes públicos e advogados. Foram
denunciados à Justiça pelos promotores que atuaram no caso, 15
prefeitos, um ex-prefeito, 17 secretários municipais de Saúde e
advogados de seis empresas de material hospitalar.
Ficou muito nítida, segundo a
narrativa das investigações da operação Tarja Preta, que a
relação empresas-agentes públicos se iniciou ainda na campanha
eleitoral de 2012. É aquele negócio, os caras têm dinheiro saindo
pelo ladrão, escolhem seus candidatos a prefeito e até vereador,
propõem os acordos e injetam grana nas respectivas campanhas. Dito
de outra forma, fazem suas apostas. Contados os votos, se o eleito
for aquele que recebeu dindin para a campanha, tudo fica fácil para
os negócios.
Dá até pra imaginar os caras
conversando. “Me ajude e ajudar você, candidato”. Essa frase
cabe muito bem na boca de um sujeito de negócios meio fora do
esquadro, diga-se. E todo mundo sabe que campanha eleitoral custa
caro em qualquer lugar. Na verdade, o voto tem um custo alto que as
prestações de contas dos candidatos acabam deixando mais dúvida do
que certeza na gente. Basta observar a estrutura montada por vários
candidatos e depois dar uma espiada nos relatórios financeiros que
os candidatos apresentam à Justiça Eleitoral. No mínimo, a gente
acha que alguém está fazendo alguém de tolo ou ingênuo.
Penso que financiamento público de
campanha não resolve o problema. Isso de pegar mais dinheiro do
contribuinte para financiar disputas eleitorais, para mim, é o fim
da picada. O que imagino ser mais eficiente é exigir dos candidatos
uma correta prestação de contas. Tornar obrigatório a declaração
de quem doou e qual o montante. Quanto foi gasto e quem recebeu pelos
serviços prestados e materiais vendidos. As doações recebidas com
os respectivos recibos; as despesas, com as notas fiscais. Simples
assim.
Dia desses ouvi alguém dizendo que “é
melhor a coisa bem-feita do que o caso bem explicado”. Achei
correta a frase que, imagino, aplica-se bem às campanhas eleitorais,
onde nascem as “parcerias” nocivas ao dinheiro público. Se as
coisas fossem feitas às claras não haveria espaço ou isso ficaria
bastante reduzido para os espertos homens de negócios agirem
clandestinamente injetando dinheiro em candidatos parceiros, com um
só intuito: levar vantagem financeira a qualquer preço nos negócios
com o setor público.
Claro que este assunto é muito
complexo e não quero posar aqui de detentor da verdade sobre a
questão. Falo apenas de um ponto de vista que tenho a respeito da
relação corrompida entre empresários e agentes públicos que se
acertam nas campanhas eleitorais meio que preparando o bote sobre o
erário. Só isso. E a operação Tarja Preta, no meu sentimento,
clareou uma situação que todo mundo já suspeitava não ser lá
muito correta não. Felizmente estamos vivendo sob o estado
democrático de direito, onde há o amplo direito de defesa e o
respeito ao devido processo legal. Então, aguardemos os
desdobramentos futuros.
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