Árvores são como pessoas, pessoas são como árvores.



Terça-feira, 19 de novembro de 2013, Trindade, quase parou! A gameleira próxima ao Colégio Estadual Divino Pai Eterno caiu com uma chuva! Quanto a isso, muita coisa me chamou atenção, primeiro, o “IBOPE” que deu. Muitas pessoas mudaram o itinerário, pra passar, ver, fazer um comentário, tirar uma foto e até mesmo fazer uma filmagem.

E minha dúvida foi a seguinte: Esse movimento todo foi pelo tamanho da árvore que caiu? Estrondosa e majestosa, de longe se via a velha gameleira, sombra larga que cobria quase todo quarteirão.

Esse movimento todo foi pelo fato de ser uma árvore antiga? Talvez não tenha 100 anos, mas aparentava. Muita gente tomou cerveja embaixo dela. Muitas histórias se passaram por lá. Quantos adolescentes, estudantes do Colégio Divino Pai Eterno, com seus 60 anos de idade, se encontraram em baixo da velha gameleira! Quantos beijinhos no passado essa gameleira cobriu!

Atualmente, a velha gameleira viu muito tráfico de Crack nas noites escuras, muitos motoristas sem noção com som alto passando na porta do hospital e depois na porta da escola! Enfim, o que levou ao grande movimento de pessoas, pra ver a pobre e velha gameleira caída?

Por um momento, pareceu um velório de uma pessoa conhecida, importante ou popular da cidade. Conhecidos e curiosos foram dar seu último adeus, contar piada ou matar a curiosidade. Um velório clássico de uma cidade de interior.

Pessoas são como árvores, árvores são como pessoas. Pessoas importantes, conhecidas ou populares, quando morrem viram notícia. Pessoas anônimas quando morrem deixam a tristeza para seus parentes. Enfim, a partida de todos faz falta de alguma forma. Árvores caem todos os dias, naturalmente ou terrivelmente derrubadas, mas nem todas fazem sucesso. O sucesso de uma árvore envolve uma complexidade, como sua localização, sua idade, seu tamanho ou até mesmo, quantas casas ou pessoas, atingiu quando caiu.

Quando fui despedir da velha gameleira, caída com suas raízes para cima, fui abordado por um “doidão” da região, e o mesmo dizia assim: “Quando a natureza quer, ninguém segura! Ninguém esperava uma gigante dessas ir ao chão... O vento foi forte para derrubá-la, mas não destelhou muitas casas.”

Árvores são como pessoas, vivem uma vida. Vivem histórias próprias e histórias alheias, se quiserem dão conforto e sombra. Podem ou não dar “IBOPE” com sua partida. Como diz o velho ditado: “O que se leva dessa vida, é a vida que se leva”.

E pra você que não é imortal, que um dia uma chuva rápida, curta e sorrateira vai lhe derrubar, resta a você fazer uma pergunta: você será como a velha gameleira? Com história vivida, construída? Ou vai ser mais uma castanheira estrondosa que é derrubada diariamente na Amazônia, sem ninguém pra ir lhe visitar quando caída?

Meu adeus à velha gameleira! Talvez já fosse a hora certa de ir mesmo. Um mundo dominado pelo rancor, ódio, inveja! Sua sombra já não tinha mais sentido aqui nesse mundo. Pessoas como você, que viveu e fez história deixa um legado e uma lição: ser grande, frondoso, ter status, construiu e viveu histórias é importante, mas quando chega a “chuva” certa, todos caem.





Hélio Pinheiro de Andrade é biólogo, professor do Colégio Estadual Divino Pai Eterno e da Faculdade União de Goyazes, além de Chefe do Serviço de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Trindade.

Comentários

Obrigado meu irmão pela divulgação! satisfação em ser visto por uma pessoa de boa leitura! valeu!
Remus Silva disse…
Por mais pífio que isso possa parecer, um pedaço da história de trindade se foi. E para muitos era apenas a "velha gameleira".
Talvez este acontecimento seja uma cimbologia da perda de ingenuidade interiorana que nossa cidade vem perdendo a olhos vistos.
Para muitos será apenas uma velha arvore que caiu e desobistruindo uma calçada, mas para mim um pedaço de memória que se apaga.

Remus Silva.