Conversa difícil é essa sobre criminalidade e pobreza.
Stanton Samenow, 72 anos, psicólogo,
consumiu 43 anos de sua vida meio que frente a frente com criminosos,
segundo nos conta a revista Veja, nas páginas amarelas,
edição de 6 de Novembro, 2013. A entrevista foi feita por Pedro
Dias Leite. Segundo o entrevistado, “a decisão de cometer crimes
pouco tem a ver com a pobreza e as condições de vida em que eles se
encontravam”.
Pois é, no Brasil a gente percebe
claramente que a intelectualidade nativa faz uma ligação direta
entre criminalidade e pobreza. Sempre há um especialista em alguma
coisa para, ao ser perguntado sobre a motivação da pessoa que
pratica uma ação criminosa, geralmente sequestro ou assassinato
chocante, transfere a culpa para a sociedade. Sobretudo em se
tratando de um criminoso juvenil, aí é que os especialistas quase
pedem desculpas pela autoria do crime.
Fica parecendo que o sujeito pobre vira
criminoso porque a sociedade capitalista é terrivelmente injusta,
materialmente falando. Os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada
vez mais pobres e daí decorre a criminalidade neste país “em que
se plantando tudo dá”. Mas, contraditoriamente, há um silêncio
desconcertante a respeito dos milhões de pobres que decidem levar
uma vida longe dos crimes. Curioso isso, né?
Note bem o caso de um garoto prodígio
em qualquer área, por exemplo, no futebol. O Neymar antes dos 18
anos já era o cara dos gramados tupiniquins. E nunca vi ninguém
dizendo que aquele talento espantoso do craque revelado ao mundo pelo
Santos Futebol Clube e agora brilhando no Barcelona, é fruto da
sociedade. Ah, meus caríssimos! Não fosse o empenho, dedicação e
muito amor dos pais do Neymar será que ele teria encontrado, vá lá,
campo para desenvolver todo aquele dom de fazer com a bola nos pés o
que os pobres mortais não conseguem fazer com as mãos?
E mais importante ainda, penso euzinho
aqui, se não fosse uma decisão, escolha mesmo do próprio Neymar,
se submeter à disciplina rigorosa a que um atleta de ponta precisa
fazer e nela permanecer, duvido que ele estaria onde está e
realizando as façanhas futebolísticas e publicitárias que já
conseguiu nesses, o que?, 21 anos de vida. A gente não pode retirar
a liberdade de escolha que cada um de nós tem ao decidir por seguir
este ou aquele caminho, ora pois, ao discutir essa questão.
Mas é assim que a banda toca por aqui,
socializando os prejuízos (ficou ruim isso aqui...) e argumentar em
sentido contrário, feito nadar contra a correnteza, não é algo
muito produtivo não. E atrai a ojeriza de muita gente bem-pensante
com espaços generosíssimos na mídia, o que nem sempre é
alvissareiro para seu ninguém. Melhor deixar essa conversa de lado e
curtir o feriado da Proclamação da República.
Antes de dar por encerrado esse papo
“brabo” aqui, vou destacar o destaque (aneim!) que a própria
Veja fez na página 19, que traduz bem o pensamento de Stanton
Samenow:
“Não podemos dizer
que a maioria dos pobres se torna criminosa.
Mas dá para dizer que
todo criminoso pensa de forma parecida.
A questão é como as
pessoas lidam com o que a vida lhes oferece.”
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