Delírio de sábado à tarde.
E
eu confortavelmente instalado no sofá grandão da minha sala, em
decúbito dorsal, e vivo, assistindo ao noticiário televisivo nessa
tarde de sábado, quando de repente, passa por mim uma barata. Bicho
ou inseto, sei lá, asqueroso! Aneim! Tenho que me livrar desse
incômodo, pensei na mesma hora. E no instante seguinte ou
concomitante, não me lembro bem a ordem dos fatores e que não
altera o produto, já me pus no encalço da dita cuja armando-me do
pé direito da minha chinela de marca... Ah, deixa pra lá! Vou dizer
isso não. Afinal, aqui não é lugar para merchandising. Ninguém
está me pagando, uái!
Onde
estava mesmo? Ah, sim! Ereto, a coluna vertebral, internauta,
segurando o pé direito da minha chinela de dedos, em alerta máximo
para localizar o meu alvo e eliminá-lo impiedosamente. No caso, uma
barata voadora que deu um rasante sobre mim, tirando-me do meu
momento relax diante do noticiário sobre o Dia Internacional da
Mulher, data em que a Rede Globo decidiu homenagear o sexo frágil
botando as profissionais nas bancadas dos programas da emissora deste
sábado. Presente de grego ao mulherio, hein? Era isso.
Meu
Deus, me perdi de novo. Ah, pois não! Queria alvejar a barata. “La
cucaracha, la cucaracha, tome cuidado com a sandália de borracha”.
Vixe, me veio agora
à cabeça
essa musiquinha lá dos anos de 1980. O celebrado compositor da MPB,
Paulinho Moska, dentre outros menos votados, integrava a banda
Inimigos do Rei, a música, “Uma barata chamada Kafka”. O vídeo é
da apresentação dos caras no Domingão do Faustão. Dê um click AQUI ó! Quanto
tempo faz! O tempo voa mesmo. Eita, as baratas também!
E
nisso a barata sumiu, escafedeu-se. E meu sossego foi embora junto
com a barata. Mas, ali! Ei-la! A danada apareceu no outro canto da
sala, no chão, bem no canto da parede. Moleza, é só chegar e já
cair matando, falei comigo mesmo. Vou contar uma história, viu? A
gente faz um plano mas o imponderável entra em ação e lá se vai o
planejamento estratégico realizado. Energia gasta à toa, por haver
planejado, de cabeça e na velocidade do pensamento, uma série de
ações que culminariam no extermínio da barata. Ledo engano.
Ocorre
que o Luiz Felipe pegou o iPad que me custou os olhos da cara para
ver, pela enésima vez, aquele episódio do “Meu Amigãozão”.
Ah, sim! O Luiz Felipe é o meu pequeno de 2 anos e uns meses. Menino
esperto e já conectado à internet. Tem um dedinho indicador da
mãozinha direita que é um raio para escolher os vídeos de que
gosta no youtube. E ele já sabe até pular aqueles anúncios antes
do vídeo propriamente dito. Relâmpago Macqueen, Dora Aventureira e
Pocoyo são os preferidos dele, ao lado do já citado Amigãozão,
evidentemente. O problema é que às vezes ele, o Luiz Felipe, se
estressa e joga no chão a engenhoca eletrônica. Senti um frio na
espinha só de pensar no iPad aos cacos. Misericórdia!
Enquanto
corri até o meu bebê para evitar maiores dissabores e, claro, não
ter prejuízos “na” bolso, como dizia aquele personagem pão duro
do Zorra Total, me esqueci completamente do porquê estava segurando
aquele pé direito da minha chinela que acabei jogando para uma
direção qualquer e me sentei ao lado do Luiz Felipe que, na língua
dele, cantava a musiquinha do “Meu Amigãozão”. Curioso, né? O
tempo parou naquela hora.
E
a barata? Continuou ilesa em algum lugar aqui na casa. Credo. Pensando
nisso, infelizmente, nem todos, barata ou gente, tem um Luiz Felipe
para distrair aquele que estava disposto a fazer uma maldade, né?
“Quem é um amigo especial...”.
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