Breves considerações sobre a caridade

Flagrante de alguém dormindo na rua.
Fiz a foto aí do lado hoje mesmo, quinta-feira (17), bem cedinho, por volta das 7 horas, no centro de Goiânia. E todos sabemos a importância desse período para os cristãos, não é verdade? Afinal, estamos na Semana Santa. Enquanto o sujeito é chamado a refletir sobre a vida, a paixão e a morte de Cristo, nestes dias, bem que se poderia prestar atenção ao que diz Mateus 25 (35, 40): “tive fome e me deste de comer; tive sede e me deste de beber...”. Ou seja, praticar a caridade uns para com os outros, pois somos todos irmãos. Todavia, na vida real a coisa é muito difícil.

Sob aquele cobertor em baixo da marquise de um prédio, no centro da capital goiana, na fotografia acima, há uma pessoa, um ser humano. Certamente é alguém acostumado à realidade de quem vive na rua, não tem uma casa nem família, se veste com o que ganha aqui e acolá, se alimenta mal diariamente daquilo que recebe ao pedir a esta ou aquela pessoa que, mesmo atendendo ao pedido, o faz meio assim com pressa de se livrar do incômodo pedinte.

E todos já nos acostumamos demais a ver pessoas assim expostas a toda sorte de carências não atendidas, e até fazemos cara de paisagem ante a posição vulnerável de gente sem condições de sair lá da sarjeta e voltar a viver com dignidade. Fica tudo parecendo normal, efeito do capitalismo selvagem, como se o sistema não fosse formado por pessoas, gente de carne, osso e alma. A maior parte da população acaba agindo diante de problemas assim como o Pilatos, aquele que a Sagrada Escritura conta ter lavado as mãos...

Ninguém aqui está dizendo que é fácil, simples ato de vontade, fazer uma intervenção na vida de um conhecido, um amigo, um familiar, para ajudar a superar dificuldades. Muito menos ainda em se tratando de um estranho que está ali na rua trajando farrapos, exalando um mau cheiro terrível muitas vezes, pedindo dinheiro para manter o vício do álcool ou drogas do tipo crack. É complicado demais da conta tomar a iniciativa de ajudar alguém em situação tão fragilizada, mas é possível sim. E devia ser algo natural que as pessoas evitassem a todo custo deixar que semelhantes pudessem existir de forma tão indigna, totalmente à margem da sociedade, da economia.

Mas é desse jeito que a banda tem tocado nos dias de hoje, tidos como modernos, um ritmo de vida vertiginoso, que estimula nos leva a pensar antes de qualquer coisa em nós próprios, nos nossos interesses, exacerbando o individualismo em todos nós. Contudo, por causa dessa data, Semana Santa, tempo que sugere reflexão profunda sobre o significado da vida enfim, tendo como exemplo um homem que deu a vida por todos os demais, penso que seria mais do que apropriado sairmos da zona de conforto e agir para beneficiar aqueles que mais precisam de ajuda. Meu Deus, e como é difícil dar esse primeiro passo!

De qualquer forma, a imagem acima me causou desconforto e me fez pensar um monte de coisas. Se daí vou partir para a prática do “fazer o bem sem olhar a quem”, procurando ser uma pessoa melhor capaz de se guiar pelo lema dos rotarianos sendo o qual “mais se beneficia quem melhor serve”, são outros quinhentos. Sou obrigado a reconhecer que também não sei bem o que vou fazer. O que sei de verdade, é que não podemos continuar mais achando que está tudo bem enquanto vemos pessoas vivendo nas ruas, dormindo nas calçadas, pedindo comida, onde quer que se vá.

Concluindo, se a gente tomasse consciência, como disse certa ocasião Madre Teresa de Calcutá, “Sempre foi entre você e Deus”, penso que os homens não teriam se relaxado tanto nos cuidados com seus semelhantes. Afinal, quando um irmão tem fome, sede, está nu ou fora de sua terra e recebe a ajuda e atenção do seu próximo, diz a Palavra, é a Deus que se está auxiliando. E vale dizer, Ele já nos ajuda tanto, não é verdade?


Comentários

Eder Silva disse…
Vamos em busca de acabar com a injustiça. www.edersilva.net