Falando um pouquinho mais sobre a pré-candidatura do petista Antonio Gomide e a desistência de Iris Rezende.


Recebi, nos últimos dias, algumas críticas de apoiadores e simpatizantes da pré-candidatura do ex-prefeito de Anápolis Antonio Gomide (PT) a governador de Goiás, nas eleições de outubro deste ano. O motivo é porque em alguns posts considerei que Gomide poderia ser assediado para compor uma coligação com o PMDB caso Iris Rezende conseguisse se sobrepor à pretensão de Júnior Friboi, seu concorrente direto no projeto de disputar o comando do Governo de Goiás.

Como hoje Iris Rezende enviou carta ao Diretório Estadual do PMDB goiano comunicado a retirada de sua candidatura, doravante não há mais o que se falar na hipótese. O nome que restou mesmo foi o do empresário Júnior Friboi, que será ungido candidato peemedebista a governador de Goiás, nas eleições deste ano, que tentará por fim à hegemonia tucana na política local, há mais de 15 anos. Veja a carta de Iris, abrindo mão da candidatura, no final deste post.

O caso era todo mundo sabia da proximidade de Iris com uma parte importante do PT goiano, principalmente aquela da qual o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, é integrante destacado. Não custa relembrar que Paulo foi vice de Iris como prefeito de Goiânia e acabou herdando o posto. Nas internas petistas comenta-se que Paulo gostaria mesmo é que Iris fosse candidato a governador tendo como vice um companheiro indicado pelo PT. E se o empresário Júnior Friboi topasse se candidatar ao Senado então estariam todos no melhor dos mundos políticos imagináveis para a peleja contra a hegemonia tucana liderada pelo governador Marconi Perillo.

Quem acompanhou o noticiário político goiano e viu agora o desfecho do disse me disse sobre a definição do candidato peemedebista, já sabia que a ala liderada por Iris Resende no PMDB, contava com a forte simpatia do prefeito Paulo Garcia (PT), figura de proa do semento petista igualmente interessado em manter aliança com os peemedebistas nas eleições deste ano. Mas isso não quer dizer que a pré-candidatura de Gomide tenha ficado enfraquecida. Agora que Júnior Friboi ficou sozinho no páreo, não é de todo impossível que ele tente um acordo com o PT goiano, embora os petistas já demonstraram faz tempo, não ter nenhum desejo de caminharem juntos desde o primeiro turno.

Além do mais, Gomide está se movimentando bastante para consolidar seu nome como concorrente de peso nas eleições deste ano. No período de 20 dias já percorreu mais de 50 municípios goianos, levando sua mensagem e fazendo articulações políticas para ganhar musculatura e força, pois sabe o jogo será pesado. Pessoal ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o grande nome do PT, já incluiu Goiás na rota de visitar a ser feita por Lula a fim de reforçar a campanha de Gomide rumo ao Palácio das Esmeraldas.

Quer dizer, havia falado aqui de coisas amplamente conhecidas por todos, mas igualmente não dava para negar a intenção de Iris e seus aliados em tentar fazer um acordo com os petistas, mesmo se para isso fosse necessário discutir a cabeça de chapa, que passaria por uma negociação complexa. Em política, sabe-se, conversa-se sobre todas as possibilidades mesmo e ninguém vai se sentar à mesa de negociações pensando em ouvir música para seus ouvidos. A coisa é mais complicada sempre.

Em suma, creio que Gomide é candidato de verdade, e ponto. Até porque, ninguém (ele muito menos) iria abrir mão do mandato de prefeito de uma cidade importante como Anápolis para entrar numa aventura pura e simplesmente. E a partir de agora, com a saída de Iris, a candidatura de Gomide deve ser beneficiada. Não será assim uma surpresa enorme se os feridos no processo de definição da candidatura peemedebista migrarem para o candidato petista. É sempre uma possibilidade. É isso aí!


Eis a íntegra da carta de Iris Rezende ao Diretório Estadual do PMDB, abrindo mão de sua candidatura:

"Carta ao PMDB e ao povo de Goiás

Nos meus 56 anos de vida pública lutei e vivi intensamente o sonho de deixar como legado um país melhor para as futuras gerações. E tive a honra de participar da construção do maior partido político do Brasil livre e democrático, após o fim da ditadura militar, o PMDB.

Acredito até hoje, do fundo de minha alma, que política se faz com ideais, com respeito às pessoas e com verdadeiro amor às causas pelas quais vale a pena lutar.

Falo de combater a miséria em nosso Estado. Falo de melhorar a vida dos que têm menos e dependem do Poder Público até para conseguir uma casa. Falo de fazer com que essa casa tenha asfalto na porta e que a energia elétrica, a água e a rede de esgoto cheguem a todos. E falo também, com fervor ainda maior, da luta para que não faltem educação e saúde de qualidade para todos.

Para mim são causas que valem a dedicação de toda uma existência. Esta é minha luta, por onde passei: de líder estudantil à Câmara Municipal e prefeitura de Goiânia, de lá para a Assembleia Legislativa e o governo do Estado, aos ministérios da Agricultura e da Justiça e ao Senado Federal.

Nesse momento, contudo, vejo Goiás muito fragilizado. Nossa infraestrutura está comprometida. A população está assustada diante dos maiores índices de violência da nossa história. Ninguém sabe quem de fato controla a segurança pública em Goiás. E como se não bastasse, temos serviços públicos cada vez piores, especialmente na educação, saúde e distribuição de energia.

Por outro lado, vejo a oposição fragmentada e também fragilizada. Por isso, lancei minha pré-candidatura ao governo de Goiás. Senti que meu nome seria novamente o mais competitivo, com maior capacidade de aglutinar os anseios populares – basta ver a lembrança ao meu nome nas pesquisas eleitorais, mesmo sem que eu me movimentasse como pré-candidato – e de outros partidos de oposição numa disputa contra o atual governo estadual.

Atendi, inclusive, ao apelo do Partido dos Trabalhadores (PT), de que só manteria a aliança com o PMDB em Goiás se eu me dispusesse a ser candidato a governador.

Mas nunca pensei que veria o PMDB dividido internamente e lançado ao mercado de especulações pouco republicanas. Já participei de muitas disputas internas no partido, nacionais e em Goiás, ganhei e perdi, mas sempre foram embates leais, pautados por ideais. Não quero, contudo, que meu nome seja instrumento de cisão desse partido, que é resultado do sentimento de muitos goianos.

Desta forma, é com enorme pesar no coração que retiro minha pré-candidatura às eleições desse ano. Tomo essa decisão em respeito ao meu partido, à minha história e, sobretudo, em respeito ao povo goiano.

Sigo sempre em busca do bem maior para o Estado de Goiás e para o Brasil.

Iris Rezende Machado"

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