Sábado de aleluia também faz a gente lembrar do passado.
Hoje
é sábado, né? E se ontem foi Sexta-feira da Paixão, quer dizer
que hoje é “Sábado da Aleluia”. Nos meus tempos de menino, lá
em Aloândia, cidadezinha no Sul de Goiás. Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a minha
terra natal deve estar hoje com, mais ou menos, 2,2 mil habitantes. O
cidadezinha é uma forma carinhosa de me referir onde nasci, vivi, e
até hoje meus pais e vários amigos ainda moram.
Recordo-me
de que o pessoal então dizia que hoje era dia de enfiar o pé na
jaca, não com estes termos, tomar todas as cervejas e cachaças
possíveis e que o curto dinheiro na época dava para comprar. Os
caras também gostavam de se reunir para, na madrugada de sábado,
fazer uma deliciosa galinhada. Arroz com galinha, gente maliciosa.
Lógico que isso acabava com muita gente chamando “Jesus de
Genésio” e naquela ressaca do sujeito pensar que a cabeça iria
explodir a qualquer momento.
Interessante
também que os cabras achavam superlegal fazer arroz com galinha, sem
comprar ou ganhar a dita cuja. Verdade. Tinha lá a emoção de, como
direi, subtrair a penosa em algum poleiro de terceiros para a
degustação acompanhada de bebida de alto teor alcóolico nas altas
madrugadas. Havia donos de galinhas no lugar que, parece, não
dormiam de Sexta-feira para Sábado, alguns com espingardas em punho
até. Pelo menos isso faz parte do anedotário da época. Tudo para
evitar perdas “nas criação”.
Mas
também me lembro que isso tinha mesmo a ver é com uma fase na vida
da gente. Era sim molecagem de jovens que estavam começando a fazer
farra, garotos ali pela adolescência ou já saindo dela. Nada de tão
sério não. E muitas vezes depois da “arte” feita, ou seja,
comida a galinhada, alguém pagava ao dono do produto subtraído, sem
maiores problemas. Ah, sim! Também já ouvi casos em que esse tipo
de “brincadeira” não terminou muito bem não. Mas a regra geral
não produzia complicações demais não.
Hoje
em dia se ainda houvesse gente criando galinha em casa e alguém
quisesse fazer semelhante “arte”, não é bom nem pensar. Isso
poderia virar notícia de alcance nacional. Polícia no meio,
processo na Justiça e condenação certa. Não seria de duvidar se a
punição viesse no nível máximo inclusive. O rigor empregado pelo
sistema legal brasileiro para fatos assim é de assustar. Por outro
lado, quando o que está envolvido é contado na casa dos milhões ou
bilhões de reais aí a conversa é outra. Há sempre um advogado bem
pago na parada que conhece tudo sobre recursos jurídicos, capaz de
livrar o cabra de ver o sol nascer quadrado.
Retomando,
me lembrei disso não foi por causa de política ou questões
jurídicas envolvidas no caso de um arroz com galinha de “gente
jovem reunida” numa gandaia. Pura e simplesmente recordei de um
tempo nem tão distante assim, mas que dá ares de estar lá longe.
Era muito diferente, não apenas por se tratar de uma pequena cidade
do interior não. Mesmo nessas pequenas localidades a vida também se
transformou demais da conta. E pior que, em determinados aspectos,
nem se pode dizer que a mudança foi para melhor. Sem saudosismo nem
ingenuidade, a vida mudou mesmo, e ponto.
Com
relação a esse negócio de malhar judas no sábado de aleluia eu só
vim a tomar conhecimento quando já era bem crescido. Não me lembro
de, em criança, ver os adultos brincando disso não. Ah, quase ia me
esquecendo. Não sei ao certo se foi na minha primeira ou segunda vez
que entornei o caldo, mas garanto que foi justamente num “evento”
desses aí, galinhada na madrugada do sábado de aleluia, que enchi a
cara. Faz tempo que larguei dessa moda besta de beber creveja também,
vale dizer. Agora, de uma coisa nunca me esqueci. Que ressaca!
Ninguém merece. É isso aí!
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