Sobre os caras que se passam por coitadinhos.
É
só brincar com alguém dizendo assim, “Ê vida boa, hein?”, que
o sujeito apela e começa a desfiar um rosário de lamentações e
justificativas sobre as dificuldades enfrentadas no seu dia a dia.
Será porque cargas d'água isso é assim? Os caras preferem se fazer
de vítimas o tempo todo, dando a impressão de que ter uma vida boa
seja algo detestável. Ah, passe amanhã! Muito esquisito isso, viu?
Hoje
mesmo encontrei um conhecido na rua e ao cumprimentá-lo sapequei
logo: - Vidão, hein? Tudo bem com você, né? Vou dizer que o
semblante do meu chegado não ficou assim um mar de rosas pra mim.
Realmente eu percebi que ele não gostou, fiz de conta que não
percebi, falei umas bobagens sobre a ruindade da Seleção Brasileira
do técnico Felipão e me despedi rapidamente quase sem deixar o cara
falar essa boca é minha. E me coloquei em movimento. Como diz a
molecada: Vazei!
De
agora em diante vou fazer o seguinte. Se o conhecido for mesmo mais
próximo, até que poderei brincar sobre a vida do sujeito. Caso
contrário, parei com isso. Talvez eu possa é já chegar maldizendo
a vida, salientando os problemas do cotidiano, principalmente o preço
dos produtos no supermercado, para engrossar o coro da galera que
parece gostar mesmo é de passar adiante a ideia de que as coisas
estão ruins e a tendência é de piorar cada vez mais.
Mas
eu penso que isso tem um pouco (ou muito, sei lá) a ver com algo
assim, como poderia chamar, a “síndrome do coitadinho”. É, acho
que muitas pessoas ficam nessa de passar uma imagem de coitadinho
sofrido diante das injustiças do mundo, talvez para angariar alguma
simpatia alheia, mas, na verdade, o camarada está de olho mesmo é
numa oportunidade qualquer de se dar bem, levar uma vantagem,
sobretudo materialmente falando. Ando desconfiado de gente que se
comporta assim.
Por
isso mesmo dá uma vontade danada de dizer: - Vade retro, gente
negativa! Ninguém merece. Credo em cruz!
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