Pancadaria verbal como forma de fazer a disputa eleitoral.




Não estou entre os que ficam pensando que temporada de caça ao voto é momento propício para os concorrentes apresentarem suas melhores características ao distinto público vontade. A realidade da disputa faz aflorar nos concorrentes o desejo de vencer a qualquer custo. Talvez por isso mesmo os envolvidos na peleja acabem se decidindo por, em vez de apresentar propostas de trabalho, destacar os pontos falhos do adversário. Por outra, o foco é “desconstruir” o adversário visto como o inimigo a ser dizimado.

No futebol antigamente denominado de várzea, o pessoal costuma dizer que, do pescoço para baixo, tudo é canela. Dessa forma o espaço no corpo do adversário que pode receber porrada é aumentado. E o jogo, como todo mundo sabe perfeitamente, é sempre bruto mesmo.  Inclusive no caso do futebol feminino não tem essa de delicadeza das meninas não, senhor. O pau canta mesmo. Não há intenção alguma de fazer graça neste caso. Não tem trocadilho algum, se é que me entende. Em havendo disputa, o jogo jogado é sempre pesado, onde o filho chora sem que a mãe veja. Pior, neste exemplo, as mães veem e muitas choram junto.

Nas campanhas eleitorais a coisa não é muito diferente do que ocorre nos campos de futebol. Os envolvidos no jogo descem a porrada de forma recíproca e tentam disfarçar que estão “jogando na bola”, enquanto o objetivo claro ali é, não raras vezes, a canela, o joelho, o tornozelo, do adversário. Sem esquecer as “partes baixas”, vale lembrar. E mesmo sabendo que a partida está sendo filmada, não falta jogador que tenta enganar a imagem captada pela lente das câmeras que mostram o lance sob os mais diferentes ângulos.

Quando a gente observa o que os candidatos a presidente da República, Aécio (PSDB) e Dilma (PT), e os candidatos a governador de Goiás, Iris (PMDB) e Marconi (PSDB), engalfinhados na briga agora em segundo turno, fazem uns aos outros, a gente percebe semelhanças com o que ocorre em muitas partidas de futebol. Eles se xingam reciprocamente mas nunca sempre afirmam que quem começou a pancadaria foi o outro. E fazem isso na maior cara dura. É incrível como ninguém se dá por achado, dá o tapa, esconde a mão e joga a culpa no concorrente.

Se no futebol os torcedores estão lá para repercutir cada lance, enaltecendo o jogador do time do coração e detonando o atleta da equipe contrária, nos embates políticos, os apoiadores desempenham semelhante papel. Tudo que o seu candidato diz ou a sua campanha veicula assume ares de verdade absoluta e passa a ser replicado e compartilhado em comentários e principalmente nas chamadas redes sociais, com destaque absoluto para o Twitter e o Facebook.

E como quem “conta um conto aumenta um ponto”, em temporada de caça ao voto, a mensagem vai sendo elevada em seu tom até beirar algo muito próximo ao xingamento puro e simples, que vai acabar em algo também bastante parecido a uma briga de rua, daquelas em que há tapas, socos, pontapés, tiros e facadas também. O negócio é muito sério, que ninguém se iluda não.

Mas a pergunta que me ocorre é será que isso tem quer ser assim? Ou será que em disputas pelos votos dos eleitores só existe um jeito para se ganhar, falando mal do adversário, realçando-lhe o que se entende por defeitos? É isso mesmo? Será que para vencer uma campanha eleitoral não tem outro jeito, o candidato precisa agir com cinismo, dizer uma coisa e fazer outra, atribuir ao adversário o quem nem sempre o cara falou ou fez?

Pelo que assistimos dia sim e outro também nas campanhas eleitorais a resposta a essas questões, infelizmente, não é muito animadora não. Até porque, os profissionais mais importantes, contratados quase que a peso de ouro, os marqueteiros políticos, atuam segundo uma espécie de manual contendo a receita de bolo para uma campanha vitoriosa toda baseada em ataques deste jaez (que palavra é essa, gente?).

Todavia, internautas queridos, se os caras agem dessa forma, não me iludo, é porque o público ou aprova ou não está nem aí. Ora, ninguém, muito menos os marqueteiros políticos e seus contratantes, vai nadar contra a correnteza. Se o eleitorado reprovasse veementemente esse tipo de estratégia política, certamente os protagonistas das disputas eleitorais mudariam a prática. Quanto a isso não tenho dúvida alguma.

Mas também concordo que os protagonistas, os políticos, é que deveriam se preocupar em melhorar o nível da disputa, a qualidade da argumentação, a forma de se relacionar com o adversário, afastando o cinismo e a falsidade, pois isso haveria de influenciar os eleitores, talvez até despertando neles um jeito diferente de enxergar a política, suas tricas e futricas. No entanto, pelo menos nessa edição, a gente não precisa se iludir quanto à elevação da qualidade dos futuros embates eleitorais em terras brasileiras, goianas em especial. E tenho dito!


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