Entrevista: Cantor Alecir, da dupla Alecir e Alessandro
Há
15 anos morando e cantando em Cuiabá, Alecir revela que a dupla Alecir e Alessandro está organizando a volta para casa
Wellington Gomes Ferreira. Anunciado assim,
muito pouco gente consegue ligar o nome à pessoa. Trata-se do cantor Alecir, da
dupla trindadense Alecir e Alessandro. Com uma carreira musical iniciada no
final da década de 1980, Alecir conta já ter gravado 4 CD's de carreira, 2 CD's
Acústicos e 1 DVD, na atual formação da dupla, mas na sua trajetória gravou
também um LP (Vinil) com o primeiro Alessandro com quem cantou muito tempo
também. Morando em Cuiabá, no Mato Grosso, há 15 anos, Alecir revela que o
fechamento de várias casas de shows onde se apresentava em Goiânia, entre
1997/98, acabou determinando a mudança dupla trindadense, mas hoje pensam em
fazer o caminho inverso. Se preferir ouça o áudio da conversa no post ABAIXO. Leia, a seguir, a entrevista exclusiva de Alecir à Sonoridade Rádio Web
e ao Blog do Sérgio Vieira (BSV).
BSV
– No início da carreira, lá nos idos de 1988, você imaginava que
sua carreira seria tão longa e produtiva?
Alecir
– Na
verdade, quando a gente começa na música, a gente começa mais por
uma brincadeira, né? Você nasce com o dom, aí não quer aceitar
porque tem toda uma certa dificuldade financeira, familiar. Você
precisa trabalhar para ajudar a família e daqui a pouco juntam-se os
amigos e falam “rapaz, você está cantando bem, precisa participar
de festivais” e aí você não quer mais vira um puxa daqui, outro
puxa dali, e foi assim que aconteceu. Eu comecei a cantar em
festivais e o meu parceiro também cantava em festivais e aí unimos
forças e começamos a cantar numa pizzaria, na se chamava Pizzaria
La Romana e o trem começou a dar certo, começou a engrenar. Como
diz o caipira, “o trem começou a engrenar” e nos fomos lá. É
melhor do que trabalhar na roça, né? Cantar, ganhar um dinheirinho
mais “avurtado” é melhor do que trabalhar na roça. E aí
começamos a pegar mais sério a coisa, correr atrás das coisas com
mais seriedade, com mais compromisso sério, com mais humildade,
porque é dessa forma que a coisa acontece. Você tem que ter
seriedade no seu trabalho, compromisso com o seu público e humildade
acima de tudo.
BSV
– Você falou aí e se lembrou de participação em festivais. O
FIT (Festival de Intérpretes Trindadenses), que o Alair de Paulo e o
irmão dele, o saudoso Dedê, realizavam teve uma certa importância
no seu surgimento musical, né?
Alecir
–
Com certeza. O FIT, na época também existia o Festri, que era
promovida pelo Nagib. Nós participávamos dos dois festivais e na
época tivemos a felicidade de ganhar. Ganhei, acho que três
festivais consecutivos. Aí já não aceitaram participar mais como
concorrente. Participaram mais para estar no meio da turma. Como se
diz, eu era ira cria do festival e eu não podia ficar de fora. Eu
tenho loucura pela música, a música está no sangue. Se eu ficasse
de fora eu ia adoecer. Então eles [os organizadores] diziam “Não,
você vai fazer uma participação porque o pessoal não está
querendo fazer inscrição se você for participar concorrendo”.
BSV
– Você falou que a música está no sangue, mais alguém da
família é artista?
Alecir
–
Não, o povo lá de casa é mais trabalhador, o preguiçoso sou só
eu mesmo, mas o meu avô era sanfoneiro. O meu pai não foi cantor
profissional, mas ele tinha a voz muito boa, ele sabia faz primeira,
segunda voz. A minha mãe também sabe o que é primeira e segunda
voz. Já o meu irmão ele não seguiu muito o lado da música, ele
meu desafinado, mas gosta de música também. Gosta mas não consegue
distinguir o que é primeira e segunda voz.
BSV
– Isso não é fácil mesmo não, a gente ouve tanto e pensa que
entende, mas vá cantar para ver como é que é...
Alecir
–
Não é fácil não, mas é gostoso.
BSV
– Como foi assim esse seu descobrimento como artista? Quando se deu
isso?
Alecir
–
Para falar a verdade, desde criança, a gente morava na fazenda,
morava lá na roça.
BSV
– Onde era?
Alecir
–
A gente morava em São José de Mossâmedes. Então à noite, tinha
um bancão do lado de fora, no chão batido, e nisso meu avô e meu
pai se sentavam de fora ali e ia tomar uma cachacinha, depois do
serviço...
BSV
– Você herdou isso também? Beber...
Alecir
–
Uái, tem que herdar, amigo. Como é que faz? Aí chega do serviço,
toma aquele belo banho, janta e vai ali pra fora, no terreiro ali,
naquele chão batido, não tinha nem violão, não tinha nada. Era só
uma mesa de madeira mesmo ali, sobre o chão batido, e ali ficava e
começava a cantar. Um começava a cantar uma música, no gogó, é a
famosa capela. Meu pai puxava e meu avô fazia a segunda [voz]. Às
vezes, meu avô puxava e meu pai fazia a segunda [voz]. E aquilo eu
fui invocando com aquilo, achando bom. Aí um certo dia a gente nós
saimos para a cidade, para fazer umas compras, tinha que comprar umas
coisas. Na volta eu voltei cantando. Aí eles falaram “Esse menino
também aprendeu”. Eu ia pra roça levar almoço e tinha que ficar
o resto da tarde lá, e era o resto da tarde cantando e assoviando.
Meu avô dizia, “Cala a boca, moleque, você não dá sossego para
os meus ouvidos”. Quem mandou ele me ensinar, né?
BSV
– Qual o momento em que você analisou as perspectivas na vida e
decidiu, “meu negócio é a carreira artística mesmo, violão e
cantoria?”
Alecir
–
Para te falar a verdade, foi quando nós cantamos num final de
semana. Eu trabalhava na roça. Eu parei de estudar muito cedo.
BSV
– Você estudou até quando?
Alecir
–
Eu estudei... Ainda na época existia a 5ª série. Pois é, então.
Eu estudei e fiz a 5ª série e não consegui mais estudar porque
precisava trabalhar para ajudar meu avô em casa. Meu pai morreu eu
tinha de 9 para 10 anos. Aí eu fui criado com meu avós. Então a
gente trabalhava na roça, era um sofrimento. Eu sei, por isso que eu
dou muito valor a esses companheiros que trabalham, que labutam, eu
sei como é que é a luta. Trabalha demais, sofre muito e ganha muito
pouco. Quando eu fui e cante sexta, sábado e domingo só, a hora que
eu peguei aquele pacote de dinheiro que eu peguei e contei e falei,
“Rapaz do céu, ganhei quase que o dobro do que eu ganhava a semana
inteira trabalhando no sol quente e naquele sofrimento”. Três dias
de noite, no meio da moçada bonita, no meio de um povo bonito,
cantando coisa bonita. Não é uma coisa deliciosa cantar? Aí eu
falei “Não, não vou voltar lá [na roça] mais não. Eu acho que
vou ficar por aqui mesmo”. E aí fiquei, resolvi. E a gente pegou
mais firme no trem, levamos mais sério e estamos até hoje.
BSV
– Chegou um momento na carreira de Alecir e Alessandro que vocês
decidiram sair de Trindade. Ao contrário do que a gente vê muito
artista sertanejo, pessoal sai lá de Minas Gerais e vem morar em
Goiânia. Vocês foram para Cuiabá, no Mato Grosso. Por que vocês
decidiram isso?
Alecir
–
É uma ótima pergunta. A pessoas perguntam, “Uái, mas por quê?
Vocês são goianos, Goiás é o celeiro de dupla sertaneja, da
música sertaneja, vocês saem de Goiás para ir para Cuiabá...”.
Na época, a gente tinha uma vida boa, uma agenda muito boa em
Goiânia. Devido a um certo prefeito que foi eleito, ele mandou
fechar quase todas as casas de shows de Goiânia. Então, as duplas
que estavam cantando ficaram praticamente desempregadas e aí aquilo
foi um baque para todos nós.
BSV
– Isso foi em que ano, mais ou menos?
Alecir
–
Foi em 1997/98, que fechou um monte de casa em Goiânia e aí um
amigo meu daqui estava em Cuiabá ligou pra gente e convidou, falou
assim, “Vem pra cá, passem uns 6 meses aqui, tem apartamento,
vocês não vão pagar aluguel nada, é só ficar comigo, faz um
teste, se vocês gostarem, vai que dá certo?” Aí fomos para ficar
6 meses e tem 15 anos que estamos lá.
BSV
– Dá vontade de voltar?
Alecir
–
Nós estamos nos organizando para voltar, porque agora a música está
em alta, sempre esteve. Naquela época que esteve em baixa devido a
esse probleminha que eu falei. O prefeito fechou um monte de casas em
Goiânia e o maior eixo da música sertaneja, para todos os artistas,
no meu caso, eu cantava mais em Goiânia. Eu cantava de terça-feira
a domingo. Só não cantava na segunda-feira porque eu precisava
descansar.
BSV
– E poupar a voz, se não...
Alecir
–
Realmente aí eu fiquei desempregado.
BSV
– Falando nisso, você tem algum cuidado especial com a voz?
Alecir
–
Tenho [irônico, mostrando a lata de cerveja]...
BSV
– Estou vendo, ele gosta de uma cerveja gelada...
Alecir
–
Eu tomo uma geladinha, fumo um cigarrinho
BSV
– Deus te abençoou assim...
Alecir
–
O negócio é dormir, né? Você precisa dormir. Dormindo, alimentar
bem, tem que alimentar e saber cantar. Tem que saber [impostar a
voz].
BSV
– Como você está vendo o cenário da música sertaneja em nossa
região, principalmente para quem está começando a carreira, agora
para quem já tem um nome estabelecido, caso de Alecir e Alessandro
nem tanto?
Alecir
–
Obrigado pelo estabelecido, mas a gente precisa muito ainda, temos
que lutar muito ainda.
BSV
– Só lembrando aqui, são 4 CD's, 2 acústicos e 1 DVD. Tem tempo
de carreira já, né?
Alecir
–
A gente tem 4 CD's normais, 2 CD de carreira e 2 Acústicos e 1 DVD.
BSV
– Você é do tempo do LP (vinil), né não?
Alecir
–
Gravei um LP também com o Marcelo que foi a primeira formação da
dupla Alecir e Alessandro. Agora esse Alecir e Alessandro tem 4 CD's
normais, 2 acústicos e um DVD. Mas respondendo a sua pergunta. Goiás
tem muita dupla boa. Para dizer a verdade e não desmerecendo
ninguém, porque isso não é do meu feitio e a gente não pode
falar, mas tem muita gente fazendo sucesso e que não canta muito
igual tem gente no anonimato. Tem muitos no anonimato que pegam
muitos que estão lá e põe no bolso, no meu ponto de vista, no meu
gosto sertanejo, né? No meu gosto de ouvir, no meu gosto musical.
BSV
– A que se deve isso, é mais coisa de marketing, de empresário,
de jogada assim que leva a acontecer esse tipo de coisa?
Alecir
–
Esse negócio é uma coisa meio complicada de se dizer assim porque
você precisa ter um padrinho, você precisa ter dinheiro para
gastar, você precisa de um investimento alto. Com certeza, o retorno
é garantido, mas você tem que ter o investidor, um padrinho e ter
uma galera do seu lado que está sempre te apoiando, sempre clicando
e pegando suas músicas e baixando e fazendo de tudo um pouco, porque
mídia toda ela é bem-vinda, de todo jeito é boa.
BSV
– E principalmente hoje em dia que vendagem de CD não é mais o
ganha pão, digamos assim, é mais é show, a apresentação do
artista.
Alecir
–
Hoje vendagem de CD acabou e já faz hora que passou essa época.
Agora se não fizer show o artista passa fome. Tem que gravar CD e
tem que levar para a galera. E agora tem mais um detalhe. O povo já
não está querendo mais CD não. Você tem que arrumar um pendrive.
Você tem que dar o pendrive ali de 12 GB para cima, pra ele lotar de
música. E se ele não gostar ele joga o pendrive fora. Dá uma
deletada em tudo e grava o que ele gosta.
BSV
– Está pensando em gravar alguma coisa?
Alecir
–
Estamos com um projeto aí. Estamos com duas músicas novas. Uma é
minha e vamos gravar uma outra de um amigo nosso. Aí vamos fazer
duas músicas novas e vamos mostrar pra vocês, pra vocês darem uma
força.
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