O objetivo real do governo federal é recriar a CPMF com outro nome
O financiamento da Previdência precisa ser
discutido francamente
Posso estar enganado, evidentemente, mas
observando agora melhor o pacote de medidas proposto pela equipe econômica da
presidente Dilma Rousseff (PT), minha impressão é a de que das 17 propostas
apresentadas, realmente o que interessa é a recriação da famigerada
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), renomeada de
Contribuição Provisória da Previdência (CPP), além do adiamento do reajuste dos
salários dos servidores públicos federais, bem como a extinção do Abono de Permanência no Serviço(pé na cova).
O day after ao anúncio dos
cortes no orçamento feito pela dupla de ministros algo dissonantes Joaquim Levy
(Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) pelo país adentro, muito
especialmente lá no Congresso Nacional, confirma a ideia de que a articulação
política do governo comandado por Dilma Rousseff é errática demais da conta.
Afinal, não foi possível ainda se ouvir assertividade alguma nos discursos ou
entrevistas dos parlamentares que pudesse passar aos cidadãos comuns o
significado de defesa das medidas de contenção dos gastos públicos em questão.
O presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB/RJ) não se cansa de falar a respeito das dificuldades da
aprovação da volta da CPMF. Renan Calheiros (PMDB/AL), presidente do Senado
Federal, até tenta dourar a pílula atenuando o discurso ao falar que as medidas
serão “melhoradas” no Legislativo. Pior de tudo foi ouvir o senador Humberto
Souto (PT/PE), líder do governo no Senado, manifestando-se a respeito das
dificuldades de se aprovar este novo imposto e da demora em se conseguir tal
intento. Ou seja, parece que o ministro Joaquim Levy continua mais só do que
nunca nessa história de fazer ajuste fiscal do governo federal.
Na verdade, a Previdência brasileira está
com problema de financiamento. O Regime Geral de Previdência Social (RGPS),
onde estão os trabalhadores da iniciativa privada, e o Regime Próprio da
Previdência Social (RPPS), aqueles que abrigam servidores públicos da União,
dos Estados e dos Municípios, cujas prefeituras tiveram o arrojo, a coragem ou
loucura de implantar uma coisa dessas na municipalidade, dão sinais de que a
coisa inspira cuidados. E penso que o principal objetivo da equipe econômica é
tentar buscar dinheiro junto à sociedade, via mais um imposto, para cobrir as
despesas previdenciárias. Não será fácil.
Tem gente por aí falando que o déficit
do RGPS, agora em 2015, baterá na casa dos R$ 88 bilhões. O governador do Rio
de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), revelou que a Previdência dos
servidores daquele estado custa anualmente algo como R$ 16 bilhões, o mesmo
valor da despesatotal com o sistema de Saúde pública fluminense. De toda a
forma que observa essa questão, vê-se que não custa barato manter a Previdência
em funcionamento, logicamente. Mas o que se pode ou deve fazer para se
continuar oferecendo este serviço aos trabalhadores, com a qualidade desejada
por todos?
Por exemplo, quanto ao financiamento,
sabemos todos que o RGPS é custeado pelos trabalhadores, patrões e o Governo
Federal. Já o RPPS desconta dos servidores, todo santo mês, 11% do total do
contracheque, e a outra parte cabe ao empregador, no caso, o Governo. Se essas
fontes de financiamento dos regimes previdenciários são insuficientes para se
manter os benefícios contratados entre as partes, convém negociar mudanças,
lógico. É insustentável pagar este ou aquele benefício com as mesmas fontes de
receitas? Ora, é preciso estabelecer negociação e deixar isso bem claro,
mostrando números e argumentos. Aí é só decidir.
Situação que não deve continuar por mais
tempo, segundo a modesta opinião deste blogueiro, é a atual fórmula de se
calcular o valor dos benefícios, aposentadoria ou pensão por morte, para os
servidores públicos federais. Afinal, estes trabalhadores pagam 11% sobre tudo
o que recebem e aparece nos respectivos contracheques, mas quando cumprem os
requisitos de tempo de contribuição e idade para se aposentar, acabam levando
consigo benefícios muito menores do que os salários que recebiam enquanto
estevam ativos e pagando. Pense no caso de alguém contratar o seguro de uma
caminhonete mas ao sofrer um sinistro a seguradora lhe pague como prêmio algo
calculado sobre o valor de um Gol... A propósito, vale dizer que o trabalhador
filiado ao Regime Geral, dependendo da faixa salarial, paga, no máximo, 11%
porém obedecendo o TETO dos benefícios previdenciários. O que passa disso não é
tributado.
Por essas e outras é que entendo ser
importante, diria imprescindível, realizar uma discussão aberta, transparante e
objetiva no país, de forma a dela participar representantes dos trabalhadores e
dos governos a fim de, quem sabe assim, se chegar à tão propalada reforma previdenciária.
Até mesmo porque, não será uma CPMF aqui ou uma CPP acolá que dará equilíbrio
financeiro à Previdência Social brasileira.
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