Sobre a libertação de 38 presos preventivamente em Pirenópolis
Suspeitos
de homicídios, furtos, roubos e tráfico de drogas são presos mas
julgamento demora demais da conta
Quadro explicativo da matéria do O Popular. |
É
de meter medo mesmo na gente, viu? Acabo de me deparar logo na capa
do jornal O Popular desta sexta-feira (4), com a notícia de
que lá em Pirenópolis, a 127 quilômetros de Goiânia, o juiz
Levine Raja Gabaglia Artiaga chegou chegando, como se diz, para
substituir o titular da Comarca, juiz Sebastião José da Silva que
está de férias, e foi logo manda soltar 38 detentos que estavam
presos preventivamente havia mais de 120 dias. Alguma novidade em que
os processos caminham devagar, devagarinho, na Justiça brasileira?
Nenhuma, né?
A
galera que foi colocada em liberdade pela Justiça na terra natal da
primeira-dama de Goiás, Valéria Perillo, é suspeita de crimes como
homicídio, tráfico de drogas, roubo e furto, ou seja, não é pouca
coisa de jeito nenhum. A reportagem de Cleomar Almeida na página 8
do jornal da família Câmara, informa ainda que o promotor de
Justiça daquela cidade, Rafael de Pina Cabral, afirmou que as
solturas “ferem o bom senso, já que as prisões eram legais”.
Complicado
isso, hein? Os doutores têm pontos de vista diferentes sobre essas
tais prisões preventiva e temporária, não e mesmo? E quem é que
entende esse negócio? Por aqui a Justiça manda prender o sujeito de
forma preventiva ou temporária e o cabra vai ficando atrás das
grades toda vida. Aliás, é o que está acontecendo lá em Coritiba,
no Paraná, palco da Operação Lava Jato que desvendou ladroagem de
gente poderosa aos cofres da Petrobrás. Tem camarada por lá que
está preso “temporariamente” faz tempo.
Ah,
tá! Mas no caso do pessoal preso pela Polícia Federal no Paraná a
coisa anda mais, como direi, democrática. Tem político,
empresários, e dos grandes, executivos renomados, enfim umas pessoas
que a gente dificilmente imaginaria vê-las do lado de dentro de uma
cela de prisão. Agora todos eles com a tarja de corruptos, não
falta quem se sinta meio que de alma lavada por saber que enfim a
Justiça está alcançando criaturas até há pouco tempo tidas como
intocáveis. Não é verdade que há até um ditado popular segundo o
qual cadeia no Brasil foi feita para “pretos, pobres e putas”?
Algo parece estar mudando na “terra brasilis”.
Mas,
porém, todavia, contudo... o caso é o seguinte. Não é bacana isso
de prender alguém preventivamente ou temporariamente e a coisa ir-se
arrastando sem que haja o julgamento. Acho que está na noção de
direito do mundo moderno, inclusive neste lindo país tropical, que
ninguém deve ficar preso sem ter sido condenado conforme o
ordenamento jurídico em vigor. Estou certo ou escrevendo bobagem
aqui?
No
fato ocorrido em Pirenópolis a situação é, digamos, complicada e
faz pensar. Se gente do mundo jurídico olha para uma coisa (prisões
preventivas e temporárias em curso por mais de 4 meses) e fazem
afirmações diferentes, conflitantes, a respeito daquilo, o quê
esperar de pessoas comuns iguais a nós, simples mortais para quem o
juridiquês é uma língua complexa demais, absurdamente estranha?
Mas retomemos o curso do prosa no parágrafo abaixo.
O
juiz Levine Raja Gabaglia mandou soltar os presos que até então não
estavam julgados nem condenados, logo, sem nenhuma sentença
condenatória, pleonasticamente falando. “Estavam presos
preventivamente há mais de 120 dias, o que caracteriza excesso e
ilegalidade da prisão”, eis o entendimento do magistrado. Por
outro lado, na mesma matéria, o promotor da cidade, Rafael de Pina,
criticando a postura do juiz, disse que “é de estranhar uma pessoa
chegar à comarca e mandar expedir 38 alvarás de soltura”. E o
pior ainda, continua o texto do repórter Cleomar Almeida, na opinião
do promotor Rafael de Pina, “Há pessoas que foram presas porque
estavam praticando assaltos nas ruas, tráfico de drogas, invadindo
casas. É uma situação que causa grande temor na comunidade local,
que vai ficar à mercê da criminalidade”.
Todos
ficamos com medo porque sabemos ou suspeitamos de que há bandidos
demais à solta e em ação, o que é mais amedrontador. No entanto,
é de se temer, de igual forma, que a Justiça por lentidão demais
tarde a dar resposta definitiva e aguardada por todos: Condenar e
trancafiar gente condenada. Para isso acontecer existe demanda por
mudanças na legislação vigente, por investimentos públicos em
presídios, quer dizer, falta uma séria mexida estrutural, a gente
suspeita disso.
Agora,
não se percebe movimentação nesse sentido nem no poder Legislativo
nem no Executivo, tampouco no Judiciário. Aí então vamos ficando
na situação de que para livrar a comunidade da bandidagem, muitas
vezes, acaba sendo preciso que membros de importantes instituições
do Estado atropelem ou ignorem ou adotem uma interpretação algo
melhor adaptável à circunstância da ocasião da legislação para
manter gente suspeita no xilindró. Daí, uma prisão preventiva vai
se tornando temporariamente permanente... Isso também é
desconfortável e dá medo.
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