Pensando por escrito sobre as rebeliões em presídios no Brasil
A
impressão é a de que os presos estão no comando do sistema
prisional brasileiro
Fumaça na Penitenciária Odenir Guimarães, na quinta-feira (23). Reproduzido do jornal O Popular/Marcello Dantas |
Na
quinta-feira (23), pela manhã, houve troca de tiros entre presos lá
na Penitenciária Odenir Guimarães (POG), em Aparecida de Goiânia.
A crônica policial tupiniquim é cheia dessas esquisitices já
tranquilamente recepcionadas como algo normal por esta brava gente
brasileira do lado de fora dos muros de qualquer complexo prisional
nessa “terra em que se plantando tudo dá”. O saldo do
enfrentamento entre os presos na POG ficou em 5 mortos e 35 feridos.
Um troço desses seria verdadeiro absurdo em vários outros lugares
deste Planeta Azul, mas abaixo do Equador, qual o quê, vamos que
vamos.
Pense
que situação mais esdrúxula é essa acima referenciada,
internauta, que de vez em quando nos dá uma imensa alegria por sua
honrosa visita a este modesto espaço. O cabra está preso, sob a
custódia do Estado, mas tem acesso a celular e a armas de fogo, além
de toda sorte de facas, facões, espetos e os famigerados chuchos.
Enfim, é um descalabro total um negócio desse tipo. Mas a gente
convive com uma bagunça dessas “de boa”, como se diz
informalmente.
O trem é tão atrapalhado nas prisões brasileiras e ao mesmo tempo a situação caótica reinante por aquelas bandas já não espanta mais ninguém. Parece que o real comando dos presídios está nas mãos e mentes do presos. As rebeliões e morticínios entre os próprios presos a que assistimos no início deste ano no Amazonas, Amapá e Natal, agora com mais essa mortandade aqui “no” Goiás, apenas comprovam mesmo que o Estado manda menos dentro das penitenciárias, cada vez mais sob o controle dos detentos que se organizaram e têm poder de fato, do lado de dentro das unidades prisionais, dispondo e controlando braços armados inclusive além dos limites de suas celas.
O trem é tão atrapalhado nas prisões brasileiras e ao mesmo tempo a situação caótica reinante por aquelas bandas já não espanta mais ninguém. Parece que o real comando dos presídios está nas mãos e mentes do presos. As rebeliões e morticínios entre os próprios presos a que assistimos no início deste ano no Amazonas, Amapá e Natal, agora com mais essa mortandade aqui “no” Goiás, apenas comprovam mesmo que o Estado manda menos dentro das penitenciárias, cada vez mais sob o controle dos detentos que se organizaram e têm poder de fato, do lado de dentro das unidades prisionais, dispondo e controlando braços armados inclusive além dos limites de suas celas.
Fala
sério, gente, um desarranjo dessa proporção deveria botar qualquer
autoridade em total descrédito diante dos cidadãos, dos eleitores.
Isso talvez em outros países deste mundo velho sem porteira (porém
com cercas, diga-se), mas aqui em nosso “país tropical, abençoado
por Deus e bonito por natureza”, a banda toca diferente. Os nossos
políticos continuam sendo eleitos e reeleitos por nós vem eleição,
sai eleição. Enquanto estão no poder, suas excelências seguem
fazendo vistas grossas a este caos.
Como
é que aparecem armas de qualquer tipo e aparelhos celulares dentro
de celas de presídios? Até o momento sabe-se que inexiste
teletransporte de coisas ou gente, como naqueles filmes de ficção
científica. A propósito, recordei-me agora das aventuras do Tony
Newman e Doug Phillips, nos episódios da série O Túnel do Tempo.
Mas de volta à Terra... se essas coisas estão do lado de dentro do
presídio é porque alguém deu um jeito de as colocar ali. Verdade
ou não? Quer dizer, impedir que algo assim aconteça não deveria
ser tão impossível de se fazer. Sei lá, talvez seja, vai saber. O
caso é que o “bagulho é louco mesmo”.
Pessoal
fala, há tempos, da necessidade de se criar mais vagas nos presídios
brasileiros, pois a capacidade física de abrigar a população
carcerária com um mínimo de dignidade já foi ultrapassada, e
muito. A população carcerária do país passava de 615 mil presos,
no final de 2015, ao passo em que o déficit superava a marca
de 244 mil vagas. De lá para cá nada ou muito pouca coisa foi feita
por suas excelências para resolver esse imbróglio. Dizem por aí
também que as polícias não conseguem cumprir as centenas de
milhares de mandados de prisão expedidos pela Justiça, o que não é
de todo ruim porque não haveria lugar para colocar esse povo todo
atrás das grades. Faltam celas para tanto, a gente ouve e lê
bastante a respeito. Ou seja, sob quaisquer perspectivas que se
analise a situação não dá outra, o caso é de polícia! No
entanto, como diz o matuto, “só Deus com um gancho e Santo Antonio
com um garrancho”.
Se
é verdade que políticos não se importam muito em fazer redes de
águas pluviais e de esgoto devido à pouca visibilidade dessas
obras, pois o investimento fica invisível sob a terra, construir
novos, modernos, mais seguros e melhores presídios parece não
despertar aquela vontade nas autoridades. Sempre há gente disposta a
criticar tal iniciativa num país com um enorme contingente
populacional vivendo mal demais da conta, caso dessa “Pátria
amada, mãe gentil”. Falar que o Estado tem a obrigação de dar
dignidade aos presos desperta ironias e até furor em muita gente.
Enfrentar desgaste assim não passa pela cabeça dos nossos líderes
políticos. E o problema segue ad infinitum.
Mas
a questão precisa ser enxergada por outro aspecto, ouso acreditar. E
qual seria esse viés? O lado da segurança pública, um dever do
Estado. É que a insegurança pública tem aumentado apesar da
polícia prender muitos bandidos, a Justiça condenar outros tantos e
o sistema prisional encarcerar o que pode, o que dá, o que consegue.
E lá de dentro os caras continuam botando o terror no povo aqui do
lado de fora. Melhor acabar logo essa notinha então. Como falava um
certo presidente, nos esquetes dos humoristas do Casseta & Planeta: “Assim não dá, assim não pode”. E mais não digo nem
me foi perguntado!
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