Dia de manifestações contra reformas propostas pelo presidente Michel Temer
Como
sempre acontece em ocasiões assim, organizadores inflam os números enquanto o
governo tenta diminuir o tamanho e importância do evento
Sexta-feira (28) foi dia
de manifestações de trabalhadores contrários às reformas trabalhista e da
previdência propostas pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB). Os
protestos ocorreram em, ao menos, 20 capitais brasileiras. Há quem fale na
participação de um contingente de até 40 milhões de pessoas. Deve ter algum
exagero e dos bons no número referenciado, mas importa mesmo é que foi gente demais
da conta para as ruas.
Lamentavelmente foram
registrados atos de vandalismo que não ajudam em nada. Em São Paulo, Rio de
Janeiro, Goiânia e em outros locais houve quebra-quebra, caras mascarados
distribuindo porrada e levando pancadas também. Eis aí uma “estética” da vida
urbana que não traz nada de bom, discordando do Caetano Veloso. Mas a maioria
das pessoas que participaram, repetiram bordões de “Fora Temer” e em, Goiânia,
ouviu-se muito coro de “Fora Marconi”, para a surpresa de ninguém.
Não sei quem disse que,
para a imprensa, se o cachorro morde o homem, não se tem uma notícia, mas se o
homem morder o cachorro aí, sim, o inusitado se torna o fato da hora e vira manchete.
Somente em Goiânia alguma coisa ao redor de 30 mil manifestantes estiveram
ontem pela manhã no centro da Capital, segundo números de organizadores. Mais
ninguém arriscou outro número. Mas na capa do jornal O Popular deste sábado
(29) os editores estamparam fotos de manifestantes encapuzados, em ação na
Avenida Goiás, e o flagrante da agressão sofrida por Mateus Ferreira da Silva,
33, estudante de Políticas Públicas na Universidade Federal de Goiás (UFG), que
teve traumatismo craniano e foi internado no Hospital de Urgências de Goiânia
(HUGO), onde se encontra em estado grave.
A situação de qualquer
editor não parece ser nunca confortável. Caso tivesse feito o contrário,
destacado uma foto dos manifestantes pacíficos, em detrimento da ação
protagonizado pelos mascarados, haveria críticas também. Não tem jeito, porém
imagino que dessa forma se estaria reportando com maior fidedignidade o evento
realizado ontem na região central da capital goiana.
Lamentável demais da conta
esses atos violentos de gente se agredindo assim, quebrando prédios, enfim
promovendo bagunça generalizada, deixando a população amedrontada e o que é
pior também, distorce o sentido principal da manifestação. Estamos, graças a
muita luta de gerações de brasileiros, vivendo num regime democrático e de
direito. Não só podemos, mas devemos, nos manifestar a respeito dos assuntos de
interesse comum, sobretudo em se tratando de políticas públicas. Afinal, o poder
emana do povo e em seu nome é exercido, ou não.
Alaôr Dorneles de Oliveira,
professor aposentado, de Trindade, esteve em Goiânia participando dos protestos
e nos relatou que a manifestação “foi tranquila, eu não vi nenhum ato de
violência, inclusive me estranhou muito quando cheguei em casa e vi na
televisão. Não tivemos nenhum incidente durante o trajeto que fizemos”. O grupo
fez o percurso da Assembleia Legislativa de Goiás até a Praça do Bandeirante,
no cruzamento das Avenidas Goiás com a Anhanguera e, pelo caminho e na
mobilização, “não vimos mascarados e o pessoal muito animado”, relatou Alaôr
Dorneles.
É algo mais do que
esperado que autoridades do governo da hora, sendo alvo de manifestações se esforcem
ao máximo para diminuir a importância de eventos iguais aos desta sexta-feira.
Foi o que fez o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB/PR), atual ministro da
Justiça, que afirmou à reportagem do Uol: “Agora, verificar como esses fatos de
hoje ocorreram, eu acho que vai encorajar, ao contrário de intimidar, vai
encorajar os parlamentares a observar que a grande massa da sociedade está absolutamente
de acordo com o que está acontecendo, com o que está ocorrendo”.
No entendimento do
ministro da Justiça, quem não participou das manifestações apoia as reformas,
simples assim. Há controvérsia, evidentemente. Basta olhar os baixíssimos
números da popularidade do presidente Temer para se notar que a sociedade não
está em Lua de mel com o atual governo, longe, mas muito longe disso. Além
disso, se estamos em meio a essa crise toda, não custa lembrar que o PMDB velho
de guerra esteve no poder, com ministros e o então vice-presidente Temer.
Descontados os aspectos
pouco edificadores das barricadas com pneus em fogo impedindo o direito de ir e
vir das pessoas, dos enfrentamentos de gente mascarada com policiais, do
vandalismo enfim, é de se notar que seria interessante que o governo passasse a
ouvir o tal do “ronco” provocado pelas multidões de brasileiros nas ruas.
Grande parcela da população está insatisfeita sim com o atual governo, não há
como duvidar.
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