As peripécias de um consumidor desconfiado demais da conta
Estratégia
de venda ou simplesmente esperteza revela que a venda em si não é
tão importante, mas sim o aspecto financeiro da transação
Mesinha com o preço inicial de R$ 149,00 que chegou a R$ 184,50: Melhor evitar. |
Como
diz o outro, “me deixa te contar uma coisa pra você”...
Sabe
aqueles momentos em que a gente se preocupa com a crise econômica na
qual o nosso país está imerso, segundo os especialistas na matéria,
“a maior recessão da história econômica brasileira”, há uns 3
anos e tanto? Pois é, meu caros, senti que devia fazer algo hoje
para senão debelar, ao menos atenuar os efeitos nefastos da queda na
venda do comércio goianiense. “Juro por todos os juros”, como
gostava de escrever o Joelmir Beting.
Aproveitei
o meu horário de almoço nesta sexta-feira (16), fiz uma refeição
rápida num restaurante ali no centro da Capital goiana para não
usar muito do meu tempo enchendo o pandu. Gastei pouco, coisa de 13
reais, mas também dei minha contribuição ao pessoal do ramo de
comidas neste Goiás de meu Deus, faço questão de destacar. Isso
posto, de barriga cheia, coloquei-me em movimento rumo a uma das
inúmeras lojas de móveis ali pela Avenida Anhanguera, entre as
Avenidas Goiás e Araguaia. Achei mais prudente ir meio que contando
os passos, pois o sol estava de rachar mamona e certamente era de bom
tom “evitar a fadiga” (Salve, Jaiminho! Viva o Chaves!).
Chegando
à unidade de uma grande rede de lojas de móveis, eletrodomésticos
e eletroeletrônicos, na porta já fui abordado pelo vendedor. “Posso
ajudar o senhor?”, perguntou-me o rapaz. Falei para o jovem que eu
queria um rack ou mesa para computador e o rapaz foi me conduzindo
loja adentro até um mostruário que me interessou. O preço era
legal, cravados R$ 149,00, à vista. Quis saber se havia outras cores
do mesmo modelo e o vendedor foi logo acessando o sistema no
computador, apresentou-me a foto de uma mesinha com a qual fechei,
então lhe disse: “Esta aí serve”. A negociação estava dando
pinta de que terminaria tudo nos conformes.
O
atendente me disse que aquele preço podia ser parcelado em até 10
vezes no cartão de crédito e me deu uma fantástica boa-nova: “O
senhor está com uma proposta de cartão da loja aprovado”. Pensei
então: “Eu, hein?” Aí respondi que iria pagar à vista. Muito
bem, aí a porca começou a torcer o rabo. Fui informado de que a
taxa de entrega era de R$ 25,00. “Isso é normal e vale para
entregas em qualquer cidade da região”, contou-me o vendedor. Ah,
estava me esquecendo de dizer que a compra estava sendo feita no
centro de Goiânia, mas o produto devia ser entregue em Trindade.
Naquele
momento, utilizando meu vasto conhecimento de aritmética, somei 149
mais 25, cheguei a 174. Falei comigo mesmo: “Ah, vá lá, estou
precisando desse treco, vou levar assim mesmo”. Enquanto o vendedor
seguia “atualizando meu cadastro”, eu ia conferindo as fofocas
pelo Twitter e, confesso, imaginando. Assim que eu concluir essa
compra aqui, vou postar nas redes sociais para, quem sabe, dar um up
no mercado financeiro, especialmente na bolsa de valores de São
Paulo. Viajei na maionese, ora pois.
Então
o jovem vendedor me apresentou mais uma novidade. “Tem uma taxa de
montagem de R$ 10,50 que eu vou ver se consigo retirar para o
senhor”, disse o profissional de vendas. Naquele momento eu falei
baixo, penso que ele não ouviu bem: “Bom tirar isso aí mesmo
senão acabo não levando nada”. Dito e feito. O vendedor teclou,
teclou, teclou, imprimiu alguma coisa lá e me disse que não
conseguiria retirar a taxa de montagem, os R$ 10,50.
Com
os rudimentos de matemática aprendidos na Escola Municipal de
Primeiro Grau Jerônimo Vicente Lopes, em Aloândia – Goiás, “a
terra que me viu nascer”, somei estes 10,50 aos 174 e a coisa bateu
em exatos R$ 184,50! Uau! Veio à minha cabeça de vento aquele
bordão que os caras do extinto programa CQC – Custe Que Custar
(Band): “Tem treta nessa bagaça!” Sou bobo mas não é assim do
tanto que o camarada está pensando não, uái. Aí, levantei-me e
disse para o jovem vendedor: “Deixa quieto”. Do jeito que entrei
na loja tratei de sair, chateado por ter perdido meu tempo sem
conseguir ajudar na recuperação do ritmo das vendas do comércio
goianiense. Chato isso, viu?
Agora
falando sério. Talvez não seja errado um trem desses, mas correto
também suspeito que não seja. Ora, do nada, o produto que custava
R$ 149,00 subiu para R$ 184,50! O vendedor, com a cara mais tranquila
do mundo, aplicou um “reajuste” de alguma coisa como 23,8% no
preço inicial do móvel. E tudo por causa de “taxas” de entrega
e montagem. Ah, sim! Lógico que não penso que isso seja simples
ato de vontade de qualquer vendedor de uma grande rede de lojas. Deve
ser “estratégia” de vendas da empresa. O atendente dá um preço,
acrescenta penduricalhos e, para fechar a transação, pergunta: “Em
quantas vezes o senhor vai parcelar?” Eis o pulo do gato (vendedor,
se é que me faço compreender): preço aumentado demais da conta e
oportunidade de pagamento em várias parcelas. Bobeou, dançou!
É
que na verdade, a venda em si não era importante, arrisco a dizer. O
vendedor nem insistiu, como é de costume. A gente percebe facilmente
que é mais relevante para essas gigantes do comércio varejista
vender caro, preferencialmente em parcelas a perder de vista, porque
dessa forma o retorno financeiro certamente se faz algo mais
fabuloso.
Mas
é tempo de concluir isso aqui. O incauto cidadão no papel de
consumidor cai nessas arapucas ou porque quer ou porque realmente
precisa do produto. No meu caso, ter aquela mesinha estava longe de
ser o meu maior desejo de consumo no momento. Aí, eu “peguei
descendo” e saí do estabelecimento com uma péssima impressão
daquela empresa da qual até já comprei outros trecos, porém em
outra unidade. Ficou claro, minha gente, não tive como ajudar a
diminuir a intensidade da crise no comércio, porém “evitei
prejuízo no bolso”, como dizia aquele personagem da Escolinha do
Professor Raimundo. É isso aí!
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