Falando sobre a reforma da previdência engendrada para reduzir direitos
Há
defensor da reforma que diz ser uma vergonha o trabalhador se
aposentar por volta dos 50 anos de idade, mas vergonhoso é mudar
regras durante a partida...
Imagem de artigo de André Forastieri |
Nestes
tempos em que vemos e ouvimos falar demais da conta sobre reforma da
Previdência que parece realmente ter ido pro saco, como disse a
editora de Política da Globo News, Renata Lo Prete, durante um
programa Fim de Expediente, na Rádio CBN, até este blogueiro
acha que tem direito de dar seu pitaco na conversa. Vamos lá então.
Pior
do que ver um monte de autoridade já aposentada e recebendo sempre
benefícios na casa das dezenas de milhares de reais, é ouvir gente
defendendo a adoção de medidas restritivas ao direito de se
aposentar, mas isso para os trabalhadores sujeitos ao cumprimento de
carência de, no mínimo, três décadas de contribuições, e daí
levar para casa uma aposentadoria de, no máximo, o teto dos
benefícios pagos pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) sob
os cuidados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que, hoje
em dia, está fixado em R$ 5.531,31.
Alguém
percebeu defesa veemente de restrição ao direito a se aposentar
alcançando políticos em geral, ministros de Tribunais, magistrados,
pessoal do Ministério Público? Não, claro. Agora, para os
barnabés, os gênios do mercado financeiro que são guindados para a
cúpula das equipes econômicas e de planejamento apontam como
solução, aposentar-se quanto mais velho, melhor, de acordo com o
teor das planilhas que eles fazem aboletados no poder. Simples assim.
E
tem mais ainda, já ouvi gente apontando como “vergonha” um
trabalhador se aposentar com idade por volta dos 50 anos. Onde está
a vergonha se o sujeito começou a trabalhar mais cedo e contribuiu o
tempo necessário, dentro das regras vigentes, implementando as
condições legais para se aposentar? Vergonha, isso sim, é ficar
mudando regras a torto e a direito como tem sido feito no Brasil
desde o governo do Fernando Henrique Cardoso. Os bambas da economia e
do planejamento estão sempre aí vendendo como solução para os
desarranjos das finanças, sobretudo do governo federal, cada vez
mais restrições ao direito de se aposentar no Brasil. Novamente,
valendo para a grande massa trabalhadora, evidentemente.
Na
verdade, aposentadorias, pensões, auxílios-doença, enfim,
benefícios previdenciários estão no pacote ao qual o trabalhador
formal, com carteira de trabalho assinada ou em decorrência de
nomeação, no caso do Serviço Público, é inscrito
obrigatoriamente, e pronto. Só lembrando que ao trabalhador não lhe
é facultado não pagar as contribuições previdenciárias com fato
gerador no respectivo salário. É ou não é? E estamos falando de
seguro sim, senhor. O trabalhador paga por isso. Não se trata de
benevolência governamental seja de direita, centro ou esquerda.
Olha
só, qualquer instituição pode e até deve passar por reforma ao
longo de sua existência, principalmente a Previdência que sente os
reflexos do envelhecimento da população, sobretudo a População
Economicamente Ativa (PEA). E num contexto de crise econômica em que
a atividade se contrai, as receitas tributárias e previdenciária,
em especial, são afetadas para baixo, de um lado, enquanto, por sua
vez, temos o impacto nas despesas em decorrência da concessão de
benefícios, dentre outros fatores. Além disso, se o mundo muda,
convém que as instituições acompanhem a evolução dos tempos. Não
há confusão nisso, sejamos claros.
O
problema reside na forma como se quer fazer essas famigeradas
reformas. Já reparou que não se pode discutir? Analistas políticos
e econômicos acham que não temos mais tempo para nada e os manés
aqui na manada de otários precisam deixar o assunto com as
excelências em Brasília, nos gabinetes refrigerados dos poderes
Executivo e Legislativo. Da retirada da presidente Dilma Rousseff
(PT) para cá, o tema virou panaceia para os males das despesas
públicas deficitárias toda vida. Ah, fala sério!
Se
o Brasil não tem condições de ofertar a atual cesta de benefícios
previdenciários aos trabalhadores, seria melhor dizer isso com todas
as letras. E mais, os geniais formuladores de projetos reformistas só
falam em cortar direitos, mas se calam a respeito do que fazer para
melhorar a eficiência na arrecadação, por exemplo. Quantas
anistias e parcelamentos de débitos previdenciários a gente já viu
tornarem-se realidade como prêmio a maus pagadores.
Seria
interessante para se colocar na mesa de negociações, imagino, a
seguinte proposta ou ao parecido, ouso dizer. Bem, o atual modelo
previdenciário não comporta mais pagar os atuais benefícios, então
vamos baixar as alíquotas incidentes sobre os salários. Afinal,
menos benefícios devem ter a correspondente redução nas cobranças
compulsórias via descontos nos contracheques. Isso não é lógico?
Só relembrando que estamos falando de seguro. Como é que o camarada
é obrigado a contratar o seguro, digamos, de uma caminhonete,
assumindo a obrigação de pagar mensalidades com base no valor deste
veículo, mas o prêmio a que terá direito será um Gol?
Ah,
mas conversar dessa forma sobre reforma da Previdência não tenho
visto animação por parte de nenhuma alma boa que dá expediente
seja no Palácio do Planalto, na Esplanada dos Ministérios, tampouco
na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Já se formou uma
espécia de pensamento hegemônico de que reformar é mexer nos
direitos da massa trabalhadora e estamos conversados. Daqui a pouco
vai ter excelência dizendo que os trabalhadores brasileiros
contrários a terem seus direitos limados não estão sendo
patriotas. Falta só isso. Dia desses, a propósito, ouvi a
jornalista Mara Luquet, da Globo News, criticando os “detratores”
da reforma da Previdência.
Pois
e, internauta. Vergonha é qualquer governo brincar com os direitos
da população. O segurado que já contribui para o sistema há uns
25 anos (mulher) ou 30 anos (homens) e ainda não têm a idade mínima
terá que continuar trabalhando e pagando por mais tempo, a tal da
regra de transição. É assim. Você contratou o seguro para se
aposentar quando completasse 35 anos de contribuições (homem) e aí
veio o governo e criou um obstáculo. Isso só não basta. Tem que
ter 35 anos de contribuições e uma idade mínima. Enquanto isso,
mexeram na forma de se calcular o valor do benefício, claro, em
prejuízo para o segurado. E este aspecto é coisa técnica demais à
qual muito pouca gente presta atenção. Agora falam que você terá
pagar por mais tempo a fim de conseguir o benefício o qual já
estaria gozando se não houvessem, espertamente (quase escrevi
malandramente...), mudado as regras do jogo com a partida em
andamento.
Acho
que por hora vamos ficar por aqui mesmo. Encerrando o assunto, digo
que vergonha mesmo, de verdade, é justamente isso, fazer-se de
esperto e mexer nas regras de um contrato estabelecido entre o
segurado e o respectivo regime de previdência. Insisto, que é
obrigatório. O segurado não tem direito de falar para o empregador
que não vai pagar a previdência. Isso sim é vergonhoso. Pronto
falei! Mais não digo nem me foi perguntado.
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