“E a água está acabando, meu caro”…

O problema é muito sério e é preciso que o cuidado com o meio ambiente em geral e com os mananciais, em especial, entre logo na ordem do dia de todos nós.

Ribeirão Cavalo Queimado, divisa de Aragarças e Faina (O Popular/Diomício Gomes)



Que sequidão estamos vivendo neste ano, hein? Todo mundo por aqui anda espantado com a falta de chuvas, com este calorão terrível que tem feito em nossa região. Onde antes havia um córrego, um rego d’água qualquer, não raras vezes, o que se tem agora é apenas o leito seco. Até rio está desaparecendo por este Goiás. Tem chovido pouco, é verdade, mas a causa de estarmos assistindo ao desaparecimento de alguns cursos de água certamente não decorre apenas disso. Temos sido competentes em degradar o meio ambiente, em particular, nascentes, minas d’água, retirando vegetação e árvores de lugares onde é essencial o verde para o equilíbrio do sistema.

Ontem conversava um pouco com um amigo que tem umas terrinhas no município de Campestre de Goiás, há bem uns 20 anos ou mais. Esse camarada me disse de sua surpresa, pois em sua propriedade existem dois córregos pequenos e com a água de um deles foi construída uma represa que continua por lá, inclusive algumas minas d’água existentes em locais arborizados, bem cuidados, mas um dos “córguin” secou geral. “É, a água está acabando mesmo, meu caro”, afirmou o meu amigo preocupado com o futuro de sequidão que pode já ter chegado por aqui, e para ficar.

E hoje ainda, no final da tarde, tive uns dois dedos de prosa com outro amigo também proprietário rural em Trindade. Numa fazenda que está na família dele lá se vão mais de 60 anos, nunca se viu seca igual em que um córrego muito bom de água secasse por completo como aconteceu agora. “A água sumiu, acabou mesmo”, revelou este proprietário rural. Gastamos água nas famílias, nas empresas, nas atividades rurais, sobretudo na agricultura, como se este líquido precioso jamais fosse desaparecer. Pelo jeito que a coisa vai indo, a conclusão lógico é a de que estamos erradíssimos toda vida. Foi a conclusão de nosso bate-papo sob o calor de 36°C que fazia por volta das 16h na “Velha Trindade da Fé e do Amor”.

Com essa estiagem prolongada, as torneiras das casas dos trindadenses têm ficado bem sequinhas da silva, principalmente nos bairros mais elevados da cidade. Captar água, fazer o tratamento e distribuir o líquido da vida é a principal atividade da Saneago, que tem enfrentado problemas também aqui na “Capital da Fé”. No início dessa semana, a estatal de Saneamento de Goiás divulgou nota na qual informava que “o Córrego Arrozal, responsável pelo abastecimento em Trindade, reduziu drasticamente o nível de sua vazão, chegando no seu limite mínimo e prejudicando a captação de água para tratamento e distribuição de água tratada no município”.

No caso específico do Córrego Arrozal, vale a pena destacar o nível de retirada de água que vem ocorrendo há tempos por ali. Uma espécie de força tarefa com pessoal da Delegacia do Meio Ambiente de Goiás (DEMA), da Saneago e da Secretaria do Meio Ambiente de Trindade tem monitorado a situação do Arrozal e por lá constatou que hortaliças e um viveiro de gramas retiram água demais do córrego para a manutenção de suas atividades. Precisamos de alimentos, é lógico e evidente, mas a fonte de água para todos está muito sobrecarregada e não dará conta de suprir as necessidades gerais. Logo, convém repensar outorgas de água na zona rural e se iniciar uma forte campanha pela conscientização das famílias e nas empresas também quanto à necessidade de se adotar a prática do consumo racional e reaproveitamento deste líquido que sem ele não dá para viver.

No dia 17 deste mês ficamos sabendo que um fazendeiro em Jussara (GO) tem um canal de quase 9 Km de extensão abastecido com água retirada do Rio Araguaia, além de pivôs, tudo isso para irrigar a lavora do abastado empresário do agrobusiness brasileiro. Quer dizer, todo mundo que pode, usa água como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Clique AQUI e veja a matéria da TV Anhanguera. Essas práticas devem ser mudadas, não há como negar. Os tempos são outros. Há mais gente no Brasil, o regime de chuvas mudou e se continuarmos a gastar água como temos feito, ai ai ai ai ai, o bicho vai pegar mesmo.

É impressionante como ainda tem criatura que insiste em fazer de conta que está tudo muito bom, tudo muito bem, e é só começar a chover um pouquinho que as coisas se ajeitam, apesar de estarmos assistindo à morte de córregos e até de rios em Goiás e no Brasil inteiro. O problema é muito sério e é preciso que o cuidado com o meio ambiente em geral e com os mananciais, em especial, entre logo na ordem do dia de todos nós. Afinal de contas, até pouco tempo havia gente que achava um absurdo comprar água mineral para beber...


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