Advento: A espera do Menino Deus
O
ano litúrgico católico não começa, a exemplo do calendário
civil, no início do mês de janeiro, mas sim no primeiro domingo do
Advento.
Paulo Afonso: Advento, a preparação dos fieis para o Natal. |
Em
380 da Era Cristã, o imperador romano Teodósio (378-395) promulgou
o Edito de Tessalônica, tornando o cristianismo a religião oficial
do Império. Vale lembrar que o cristianismo nasceu como seita do
judaísmo, sendo então uma herança judaica. Com o documento
teodosiano, a nova religião começou a apropriar-se de muitos
elementos culturais greco-romanos, considerados pela hierarquia
eclesiástica, como pagãos, e ressignificando-os, dando uma nova
identidade a eles. O cristianismo primitivo ou o catolicismo nascente
se expandiu de uma religião perseguida para uma religião
expansionista. Em 476, com a queda do Império Romano do Ocidente,
por vários fatores, entre eles, as invasões dos povos germânicos,
o cristianismo conseguiu a façanha de convertê-los para a fé em
Cristo.
Nos
séculos VIII ao XI, houve as famosas invasões vikings, povos
nórdicos, na Europa. Novamente o cristianismo tornou-se a religião
desses povos. Também não devemos deixar de mencionar a importância
da filosofia platônica e aristotélica na formação da doutrina
cristã, a qual passou a ser chamada de patrística e escolástica. O
catolicismo com todo esse contato cultural e filosófico tornou-se
uma religião multicultural, com elementos apropriados de vários
povos.
Não
é o nosso intuito nesse artigo trabalhar como o catolicismo formou a
celebração do Natal, mas sim o Advento: quatro semanas que
antecedem a festa do nascimento de Jesus Cristo, justamente para
preparar os seus fiéis para o Natal, que é a segunda maior festa do
catolicismo. Essa preparação também é uma apropriação do culto
religioso greco-romano, pois a palavra advento deriva do
latim, “adventus”, significando vinda, chegada. Era usada
para designar a chegada da divindade romana ao templo, a fim de
visitar e abençoar os seus fiéis. Eles acreditavam que o deus, cuja
imagem ficava no templo, permaneceria com eles durante o culto.
Advento
também tinha outro significado na sociedade romana, simbolizando a
primeira visita oficial que uma liderança política ou religiosa
fazia ao assumir o seu cargo. Algumas moedas romanas encontradas em
Corinto estão marcadas com o “adventus augusti” e também
há relatos de cronistas falando do “adventus divi”, o dia
da chegada do Imperador Constantino.
Com
a institucionalização do catolicismo não poderia ser diferente:
deveria também haver uma preparação especial dos fiéis para a
chegada do seu Messias, o Redentor que lhes concedeu a salvação
eterna. É no século V, que aparece o primeiro indício de uma
preparação para o Natal, com Perpétuo, bispo de Tours (461-490),
estabelecendo um jejum de três dias antes desta festa. No final do
século V, surge no Ocidente cristão, a “Quaresma
de São Martinho”, um
jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à festa deste santo, 11
de novembro. Gregório Magno (590-604) foi o primeiro Papa que
elaborou um ofício para o tempo do Advento, o Sacramentário
Gregoriano, livro mais
antigo a conter missas próprias para este tempo litúrgico. Já no
século IX, o tempo do Advento passou de 40 dias para 4 quatro
semanas. E no século XI, o tempo de jejum passou para uma simples
abstinência de carne.
Chegando
aos dias atuais, uma informação interessante, até mesmo para
compreender um pouco mais o catolicismo: o ano litúrgico católico
não começa, a exemplo do calendário civil, no início do mês de
janeiro, mas sim no primeiro domingo do Advento. O ano litúrgico de
2018 começará no dia 03 de dezembro de 2017, com o Advento, e
encerrar-se-á na Festa de Cristo Rei no último domingo de novembro
de 2018.
Paulo Afonso Tavares é jornalista, mestre em Ciências da Religião
pela PUC GOIÁS. É sócio jovem aspirante da Academia Trindadense de
Letras Ciências e Artes (ATLECA). E-mail: jor.pauloafonso@gmail.com
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