O ensino superior com fórmula ultrapassada
Tudo está mudando rapidamente, mas as faculdades caminham com uma lentidão preocupante. É fundamental percebermos que existem formas muito mais eficientes e dinâmicas para o desenvolvimento de habilidades profissionais.
Carlos Rodolfo Sandrini: Lentidão preocupante das faculdades. |
Durante
muitas décadas, o sucesso profissional no Brasil esteve ligado
diretamente ao diploma. Um histórico que teve início no século 19,
quando as famílias ricas mandavam seus filhos estudar na Europa. De
lá, voltavam médicos, engenheiros e advogados. Desde então, mais
do que o status social, um curso superior sempre foi considerado uma
ferramenta fundamental para uma vida melhor em um país
subdesenvolvido. Isso realmente fazia sentido, pois o sonhado diploma
abria as portas do mercado de trabalho possibilitando salários
melhores, promoções frequentes e, principalmente, estabilidade
profissional.
Mas,
em pleno ano de 2017, o que tem evoluído nos cursos superiores?
Considerando que a maioria das profissões que conhecemos irá
desaparecer em menos de uma década, que nesse mesmo tempo mais da
metade dos postos de trabalho existentes hoje serão exercidos por
máquinas e que todo o conhecimento acadêmico do mundo está online
e acessível na palma da mão, como as faculdades estão formando
seus alunos?
As
universidades, engessadas em modelos tradicionais, serão capazes de
se reinventar para formar uma mão de obra ainda inexistente? Nos
Estados Unidos e em países europeus e asiáticos, grandes empresas
internacionais estão priorizando cada vez mais aqueles com
capacidade de encontrar soluções e de se reinventar, que tenham
responsabilidade social, talento, criatividade e vontade de
empreender, deixando em segundo plano a formação superior.
Desde
o início dos anos 1990 a competitividade exige dos profissionais um
aprendizado continuado. Somos provocados a mudar de área de atuação
para seguir as melhores oportunidades do mercado. Por esse motivo,
não é coerente cursar uma nova faculdade sempre que o mercado tomar
novos rumos. Há, inclusive, o risco da nova profissão deixar de
existir antes da conclusão do curso.
As
escolas de formação rápida e prática, com os cursos mais
inovadores e que incentivam o aluno a ir além do que já foi feito,
escrito, ou descoberto, formam os profissionais capacitados a se
adaptarem às mudanças e às instabilidades de um mercado de
trabalho em constante transformação. A liberdade didática e
conceitual dessas instituições permite que elas se moldem às
principais necessidades e tendências, direcionando cursos para
atender as mais variadas demandas. Essa dinâmica chegou ao Brasil
nas últimas décadas e vai ganhando espaço. A hiperespecialização,
que exige conhecimentos aprofundados em áreas bem específicas, tem
movido o segmento e exigido muita agilidade.
Você
já parou para pensar, por exemplo, quanto tempo uma universidade
tradicional demoraria para adaptar o seu programa e adicionar temas
do momento, como os tão falados drones? Até o final de 2017 serão
comercializados mais de três milhões de drones em todo o mundo, e
várias profissões serão impactadas por eles. É um instrumento
transformador em logística, mapeamento e topografia, agricultura,
meio ambiente, construção civil, mineração, publicidade, eventos
e jornalismo. Esse é só um exemplo de uma nova habilidade
profissional que não era nem imaginada há poucos anos.
Com
a inteligência artificial, que será responsável por uma fase de
grandes transformações, as instituições de ensino superior vão
precisar atingir um novo patamar e quebrar paradigmas seculares. Os
avanços científicos estarão sendo desenvolvidos nos grandes
laboratórios e em empresas como Google, Microsoft, Apple, Amazon e
Facebook. As áreas que necessitarem de precisão ou de repetição
não terão mercado de trabalho em escala. O mercado de trabalho será
para pessoas com talentos diferenciados. Exatidão, rotina e
previsibilidade serão qualidades para as máquinas. O mercado mais
promissor será o da economia criativa e das várias modalidades de
hospitalidade.
Os
alunos das instituições de ensino superior e aqueles que se
preparam para ingressar nelas, dificilmente terão suas expectativas
atendidas. Tudo está mudando rapidamente, mas as faculdades caminham
com uma lentidão preocupante. É fundamental percebermos que existem
formas muito mais eficientes e dinâmicas para o desenvolvimento de
habilidades profissionais. Nos próximos anos, cada ser humano
construirá seu caminho profissional extremamente personalizado,
passando pelo ensino formal, informal e vivenciando experiências
realmente transformadoras.
*Carlos
Rodolfo Sandrini é arquiteto e urbanista. No
início da década de 1990 fundou o Centro Europeu, primeira escola de economia
criativa do Brasil.
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