Déficit previdenciário é invenção do governo para enganar população, afirma auditora da Receita
A
dívida pública é a
grande responsável pela atual crise econômica, além da sonegação
fiscal e dos casos de desvio de verbas oriundos da corrupção
Maria Lúcia Fattorelli: "Déficit previdenciário é invenção do governo". (Foto: Divulgação) |
A
auditora aposentada Maria Lúcia
Fattorelli, fundadora da associação Auditoria Cidadã da Dívida e
uma das responsáveis por auditorias financeiras na Grécia e no
Equador, afirmou que o governo Temer “cria factóides
para embutir na consciência da população que apenas com a Reforma previdenciária o Brasil voltará a crescer”. O tema foi debatido
nesta quinta-feira (30/11) no 24° Congresso Nacional da Confederação
Nacional dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB), que ocorre em
Brasília (DF) durante esta semana, com a participação de centenas
de sindicalistas e especialistas palestrantes.
"A
dívida pública é um mega esquema de corrupção
institucionalizado. Ao apresentar os gastos previdenciários, o
Governo Federal não considera a cesta toda. Ele pega somente a
contribuição do INSS e compara com a despesa total, desprezando
Confins, PIS, PASEP e outros recursos que fazem parte da Seguridade
Social. A conta está errada e o governo fabrica esse déficit
propositalmente e de forma criminosa", afirma Fattorelli.
Para
a especialista, ao contrário do que afirma a equipe do Planalto, a
dívida pública é a grande responsável pela atual crise econômica,
além da sonegação fiscal e dos casos de desvio de verbas oriundos
da corrupção. "De 1995 a 2015, tivemos um superávit
primário de um trilhão de reais. Quer dizer, o problema da crise
não está nos gastos sociais ou no investimento público, mas na
prática de juro abusivo e de uma dívida que, hoje, consome 44% do
Orçamento Geral da União. Gastos com Saúde,
Educação
e Previdência, juntos, não ultrapassam os 30% desse montante. Essa
conta mostra que estamos priorizando o mercado ao
invés da população", alerta Lucia.
“O
único setor que ganha com essa contrarreforma é o setor financeiro.
Ganha muito e de várias formas”, coloca Maria Lúcia.
Para a auditora, a ostensiva propaganda que o Governo Federal vem
fazendo para justificar a PEC 287 tem funcionado como um incentivo à
busca por planos de previdência privada, que precisam continuamente
aumentar a sua clientela para cobrir seus elevados custos e lucros.
“Essa propaganda governamental configura uma infâmia, sob vários
aspectos, pois além de mentir sobre um déficit
que não existe e desincentivar a contribuição para a Previdência
Social, ainda utiliza recursos públicos de maneira ilegal, ferindo a
Constituição Federal, que estabelece parâmetros claros para a
publicidade institucional, limitando-a a peças de caráter
educativo, informativo ou de orientação social, o que não se
aplica à enganosa propaganda que tem sido veiculada”, finaliza.
Para
João Domingos, presidente da CSPB, é preciso engajamento de todos
os setores da sociedade civil organizada para que se restabeleça o
Estado Social de Direito no Brasil, que hoje “passa por um processo
de implantação do liberalismo sem precedentes”. “Hoje, vivemos
num estado liberal de direito, onde os interesses do poder econômico
se colocam acima dos direitos da população. Precisamos virar esse
jogo unidos, com a participação de toda a sociedade para colocarmos
no Congresso Nacional lideranças que representem os interesse da
classe trabalhadora e repudiem projetos como a reforma
previdenciária”, disse Domingos.
24°
Congresso Nacional CSPB
A
Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, que reúne mais de
1.800 entidades sindicais vinculadas em todo o Brasil e representa
milhões de trabalhadores e trabalhadoras, realiza o seu 24°
Congresso Nacional, que visa deliberar sobre
os
desafios do movimento sindical brasileiro e a agenda programática
sindical da entidade nos próximos anos.
O
Congresso realiza debates que envolvem políticas públicas,
seguridade social e outros temas ligados ao serviço público
brasileiro. Também são realizadas palestras com importantes
referências do quadro sindical e trabalhista brasileiro. Entre eles,
Francisco Gérson
Marques, procurador do Ministério Público do Trabalho, a auditora
fiscal Maria Lúcia Fatorelli, fundadora do movimento “Auditoria
Cidadã da Dívida no Brasil”, e o economista Márcio Pochman,
professor da UNICAMP.
Reportagem
de Fábio
Busian
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