Terminou a ocupação do Colégio Divino Pai Eterno
Depois
de ordem judicial de reintegração de posse expedida, estudantes
desocuparam as instalações do colégio no início da tarde de
quarta-feira
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Estudantes desocuparam o prédio cumprindo determinação judicial. |
Na
manhã desta quarta-feira (20), estive no Colégio Estadual Divino
Pai Eterno e pude perceber a movimentação de parte dos estudantes
secundaristas que estavam ocupando aquele prédio desde a tarde de
Domingo (17), contra a implantação do projeto escola de Tempo
Integral, como querem o Ministério da Educação e a Secretária de
Estado da Educação e Cultura de Goiás (SEDUCE).
Caso
seja mesmo implantado este projeto de escola de Tempo Integral, e
tudo leva a crer tratar-se de um caminho por hora sem volta, haverá
forte redução na quantidade de alunos e professores também. Neste
ano, algo como 1.350 alunos estudaram no Colégio Divino Pai Eterno,
onde 51 professores atuaram. No novo contexto, a quantidade de alunos
cairá para, no máximo, 400 alunos, segundo comentário do atual
diretor da unidade, e o número de professores reduzirá pela metade.
Os
estudantes que se manifestaram querem que o Colégio continue
funcionando como esteve nas últimas seis décadas para garantir
“escola gratuita e de qualidade para todos. Se é uma reforma do
ensino médio, então ele tem que atender a toda comunidade e não
apenas alguns. Nós queremos o direito de estudar na escola que nós
escolhemos”, conforme palavras de Mariana Freitas (17), uma das
líderes do grupo de estudantes deste movimento.
Falamos
com algumas mães dos alunos que estavam no movimento de ocupação
do Colégio, caso de Rosileide Rodrigues da Silva, fotógrafa, cuja
filha de 15 anos, concluinte do primeiro ano do ensino médio e que
deseja continuar os estudos naquele estabelecimento, mas isso ficaria
inviável numa escola de Tempo Integral, diante da necessidade da
jovem trabalhar. Veja a seguir alguns dos principais trechos da nossa
conversa.
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Rosileide, Fátima e Francisca: Preocupadas com os estudos dos filhos. |
Blog
– Por quê vocês estão neste movimento?
Rosileide
Rodrigues – Minha filha está estudando aqui e não vai ter
condições [no caso de se transformar em escola de Tempo
Integral]. Neste ano mesmo ela ficou tão triste porque ela
não conseguiu nenhuma nota por não ter faltado porque ela tinha que
faltar para fazer os exames dela para um tratamento.
Blog
– Ela é boa aluna?
Rosileide
Rodrigues – Ela recebeu Medalha de Honra ao Mérito porque ela é
uma boa aluna. Eu fui chamada para o Conselho porque ela tem um bom
comportamento.
Blog
– Vocês têm uma preocupação de depois serem retaliados, negarem
a vaga para estudar?
Rosileide
Rodrigues – Eu penso, mas assim, eu tenho que pensar no agora e não
no depois. Porque a gente ficar parado, sem fazer nada, não vai
resolver. Então, a gente tem que lutar até o fim, mesmo que, se a
gente não conseguir, a gente lutou.
Blog
– Qual é, digamos assim, o maior erro nisso que está acontecendo
agora?
Rosileide
Rodrigues – Eles impuseram. “Vai ser tempo integral, pronto e
acabou!” E assim de última hora. Todo mundo já
tinha renovado as matrículas. Quando descartou o Militar todo mundo
já tinha renovado as matrículas e aí depois eles deram a notícia.
“Não, vai ser Integral e foram cancelas as matrículas de quem
renovou”. Tive que vir à escola de novo. Eu vim aqui três vezes.
Eu vim aqui para renovar, depois eu vim aqui por causa do integral e
ela [minha filha] falou “Mãe, eu não quero. Mãe, eu não quero”.
E aí vim aqui e transferi ela para outra escola, coloquei num
horário de tarde. No lugar onde tinha vaga só tinha à tarde. É
complicado.
Blog
– A gente está vendo alunos mobilizados, mas professor, servidor,
nem tanto assim. Você não acha que vocês estão comprando o
desgaste total da coisa?
Rosileide
Rodrigues – Os professores estão pensando só neles. Para eles,
tanto faz, eles vão continuar ganhando o salário, vão ter que
trabalhar cumprindo as horas deles. E eles vão ganhar do mesmo
jeito, eles não estão se importando com a gente.
Blog
– Você assistiu à apresentação do projeto escola em Tempo
Integral, no Salão Paroquial, na terça-feira (19)?
Rosileide
Rodrigues – Eu assisti quase toda.
Blog
– O que você achou, gostou do projeto?
Rosileide
Rodrigues – O projeto é muito bonito, mas ele tem que começar no
municipal. Eu acho, no [ensino] fundamental, porque as crianças do
fundamental é que precisam de ter uma iniciação esportiva, ter uma
iniciação na arte, você ter aulas de teatro. O projeto do Rotary
Club [Fundação Matri] é muito lindo e que podia se expandir para
as escolas. É muito bonito aquele projeto. Eu fiquei admirada o dia
em que eu vi a apresentação de teatro deles. Muito bonito, e isso
aí tinha que ser estendido para a escola municipal, porque as mães
deixam seus filhos lá de manhã, o menino vai estudar, vai fazer a
tarefa, vai fazer alguma iniciação esportiva, vai fazer alguma
coisa na arte e já vai sair dali com outro pensamento. Aí sim.
Blog
– Você então acha que escola em Tempo Integral é bom para o
ensino fundamental e não agora para o ensino médio?
Rosileide
Rodrigues – Você tem que começar no Fundamental.
Havia
outras mães de alunos, caso de Fátima Santos, a Fatinha, diarista,
mãe de uma menina de 17 anos que participou da ocupação do
Colégio, recebendo dela todo apoio, porque se trata da “luta por
um direito de estudar”, como nos disse aquela mãe preocupada com
os estudos da filha.
Também
falamos com Francisca Alves, agente comunitária, mãe de uma garota
de 16 anos e participante da ocupação. “Eu conheço a qualidade
de ensino do Colégio Divino Pai Eterno, pois estudei aqui, depois
fiz vestibular na Universidade Federal de Goiás (UFG), fui aprovada,
fiz o curso e é isso que desejo para meus filhos e para todos”,
revelou Francisca Alves.
Por volta das 13h, Oficial de Justiça esteve no Colégio cumprindo ordem judicial de reintegração de posse e, depois de negociações com o grupo de estudantes, o prédio do Colégio Estadual Divino Pai Eterno foi desocupado e as atividades serão retomadas a partir das 13h desta quinta-feira (21). E a situação interna estava quase normal, com duas portas “arrombadas” e itens de merenda escolar mexidos, porém longe daquele terror que alguns comentaram que haveria forte depredação no local. Antes de concluir, vale um registro sobre a disposição de jovens entrar numa disputa dessa importância e sozinhos, pois sequer os professores participaram. E, claro, movimento estudantil perdeu força demais ao longos dos últimos anos.
Por volta das 13h, Oficial de Justiça esteve no Colégio cumprindo ordem judicial de reintegração de posse e, depois de negociações com o grupo de estudantes, o prédio do Colégio Estadual Divino Pai Eterno foi desocupado e as atividades serão retomadas a partir das 13h desta quinta-feira (21). E a situação interna estava quase normal, com duas portas “arrombadas” e itens de merenda escolar mexidos, porém longe daquele terror que alguns comentaram que haveria forte depredação no local. Antes de concluir, vale um registro sobre a disposição de jovens entrar numa disputa dessa importância e sozinhos, pois sequer os professores participaram. E, claro, movimento estudantil perdeu força demais ao longos dos últimos anos.
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