Democracia sim, fascismo não!
O
que está em jogo é a Democracia e o Estado de Direito
Sebastião Ferreira Leite, Juruna: "Democracia sim. Fascismo não". |
Li
com atenção, e espanto, o artigo "Adeus, Lula", assinado
pelo advogado Giuliano Fabrício Mioto, que se apresenta como
presidente do Instituto Liberdade e Justiça (ILJ). Na internet, a
página do ILJ informa que a missão do instituto é "instruir a
sociedade sobre os benefícios do Liberalismo, do Estado Mínimo e da
Moral Objetiva". Registra ainda que seus valores são o
Indivíduo como o centro e objetivo maior das instituições e
governos; a Defesa da propriedade privada, do livre mercado e do
lucro; a Igualdade de todos perante a lei e o Estado mínimo".
É
preciso esclarecer que há uma diferença abissal entre liberalismo e
aquilo que defende o advogado Giuliano Fabrício Mioto. O Liberalismo
surgiu no século XVIII em contraponto à tirania, ao Estado
Absolutista e, também, à própria Inquisição. É fundado do
humanismo, na igualdade de oportunidades e na fraternidade. Estes
princípios nada têm a ver com o Neoliberalismo, doutrina que coloca
o lucro acima do homem, os interesses das corporações privadas
acima dos direitos da coletividade, e o dinheiro como valor maior do
que a liberdade e a fraternidade.
Do
ponto de vista dos ideais da Revolução Gloriosa na Inglaterra
(1680), da Revolução Americana (1776) e da Francesa (1789), o
Liberalismo é uma filosofia política ou ideologia fundada sobre
ideais que pretendem ser da liberdade individual e do igualitarismo.
Os liberais apoiam ideias como eleições democráticas, liberdade de
expressão, direitos civis, liberdade de imprensa, liberdade
religiosa, livre-comércio, igualdade de gênero, estado laico,
liberdade econômica e propriedade privada.
Na
Europa e na América do Norte, o liberalismo social foi componente
chave na expansão do Estado de bem-estar social, os conhecidos
Trinta Anos Gloriosos. Na segunda metade da década de 1970, a partir
da crise do petróleo, desenvolveu-se uma reação ao liberalismo e
ao estado de bem-estar social, através do neoliberalismo. Para o
neoliberalismo a democracia não é um valor primordial e é por isto
que as experiências neoliberais se deram sob governos autoritários
ou antidemocráticos como o golpe que colocou o general Augusto
Pinochet no poder no Chile, e as privatizações e desregulamentações
selvagens colocadas a cargo nos governos de Margaret Thatcher, no
Reino Unido, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos. É o neoliberalismo
e não o liberalismo, que é a favor do Estado Mínimo, como advoga a
proposta de trabalho do Instituto Liberdade de Justiça.
Faço
este longo histórico no sentido de alertar que são falsas as
premissas do discurso de Giuliano Fabrício. O que está em
julgamento no Tribunal Regional Federal da Quarta Região, em Porto
Alegre (RS) não é a idoneidade do ex-presidente Lula. O que está
em jogo é a Democracia e o Estado de Direito.
Centenas
de juristas aqui e no exterior, condenam a sentença sem provas do
juiz Sérgio Moro, da 13a Vara Federal de Curitiba (PR). Cito o
mestre em Ciências Criminais, Salah H. Khaled Jr, que considera que
Sérgio Moro age como justiceiro e não como operador do Direito.
Luigi Ferrajoli, jurista de reputação mundial, veio a público
criticar os abusos da Operação Lava Jato, como as conduções
coercitivas e sentenças baseadas apenas em delações. Ora, prisões,
tortura psicológica e condenações com base apenas em delações
era a prática do Tribunal do Santo Ofício, que os liberais de
verdade, repudiaram. Inspirados nas ideias de John Lock, Montesquieu,
Voltaire e Rousseau, os liberais legaram ao mundo a Carta Universal
dos Direitos do Homem.
Nesta
terça-feira, em artigo publicado no The New York Times, assinado por
Mark Wisbrot, diz textualmente que Moro é um juiz partidário e
jogou a democracia brasileira no abismo. Mark Wisbrot é um liberal
norte-americano, presidente do Just Foreingn Policy, um centro de
estudos de avaliação da Justiça e da promoção do Direito. O sr.
Mioto tem muito o que aprender com os liberais norte-americanos. Para
eles, a democracia, a justiça e a igualdade de oportunidades se
fundamentam na Verdade e na Justiça não-partidarizada. Os valores
que o sr. Mioto defende estão muito longe do liberalismo. Quem
defende punição sem culpa e condenação sem provas está mais para
seguidor do fascismo de Mussolini e do nazismo de Hitler, que
condenavam inimigos políticos em tribunais especiais.
Democracia
sim. Fascismo não.
Sebastião
Ferreira Leite é advogado
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por comentar... Vamos analisar para publicar nos comentários.