“Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”... do troca-troca partidário
Do
dia 8 deste mês até 7 de abril os políticos irão mudar de partido
segundo suas conveniências, mas no discurso tudo isso é pelo bem do
povo.
Ilustração extraída do Blog da Floresta |
Um
dos melhores narradores de futebol que o rádio esportivo brasileiro
já produziu, Fiori Giglioti (27/09/1928 – 08/06/2006), costumava
usar a expressão acima na abertura de suas memoráveis transmissões
de partidas do esporte bretão. Era um show. Tomei emprestada ao
Mestre Fiori uma de suas marcas, para dizer que no espetáculo algo
dantesco da política brasileira, foram abertas não apenas as
cortinas, mas as janelas mesmo.
Para
quem ainda não sabe ou não prestou muita atenção ao que está em
cartaz no mundo político verde e amarelo, já começou na
quinta-feira (8) e vai até o dia 7 de abril (sábado) o período em
que os deputados estaduais e federais, bem como os senadores, poderão
trocar de partidos ao bel-prazer de cada “excelentíssimo”, sem
risco algum de perderem os respectivos mandatos por infidelidade
partidária. É a tal da “janela partidária”.
Segundo
a legislação eleitoral vigente, só é possível mudar de partido,
sem correr o risco de perder o mandato, quando acontecer incorporação
ou fusão de partidos; criação de uma nova legenda; desvio no
programa partidário ou grave discriminação pessoal. Mas os
parlamentares, que não são bobos nem nada, acrescentaram na relação
a possibilidade de desfiliação, sem justificativa, durante a janela
em ano de eleições. Em condições normais de “temperatura e
pressão”, caso o parlamentar se desfilie do partido fora do
período da janela, sem justa causa, a agremiação pode recorrer à
Justiça Eleitoral, reclamando a perda do mandato por infidelidade,
uma vez que o entendimento dos tribunais é o de que o mandato
pertence ao partido e não ao camarada que foi eleito.
Muito
bem, o sistema eleitoral brasileiro já é uma confusão dos diabos,
no qual, por exemplo, o eleitor vota no candidato A do partido X, mas
o voto do incauto cidadão termina por entrar numa conta maluca pela
qual se chega a um troço chamado de “quociente eleitoral”,
fazendo com que o eleito seja o candidato C do partido Y. E mais, um
sujeito recebe votos a dar com pau, não se elege, enquanto que um
outro concorrente, com votação pífia, assume o poder. Gente normal
feito a gente tem dificuldade de entender tamanha esquisitice.
Então,
mesmo tendo um sistema maluco de escolha dos parlamentares nas três
esferas (União, Estados e Municípios) feito o nosso, os
“excelentíssimos” não se dão jamais, em tempo algum, por
satisfeitos e inventam firulas, verdadeiras “pegadinhas” a três
por quatro, com o objetivo de lhes facilitar a caça ao voto do
eleitor brasileiro que costuma nem se lembrar do nome do caboclo no
qual votou, logo que deixa a seção de votação. É ou não é?
E
tem mais coisa estranha ainda. Apurados os votos, feitos os cálculos
complexos, tem-se os eleitos pelos partidos e coligações. Quem
ganha do lado do presidente da República, do governador do Estado ou
do prefeito está no céu, pois será integrante da base aliada,
caminho pavimentado à bolsa da “Viúva”. Por sua vez, os demais
eleitos, em tese, estariam na oposição. Só que não! As bancadas
de parlamentares formadas pelas urnas começam a se desmanchar,
ganhando novos contornos e conformações mais convenientes aos
sabores dos mandatários, assim que se iniciam as negociações
visando à famigerada “governabilidade” que passa pela escolha de
ministros e secretários. Daí, o cabra disputa eleições num
partido de esquerda e acaba integrando um governo de direita, assim
numa boa. É o trem mais doido do mundo!
Por
essas e outras é que já estamos observando deputados conversando
com potenciais candidatos a governador do Estado. Senadores vão pelo
mesmo caminho. Quem ainda não tem o mandato para chamar de seu está
vivendo momentos terríveis de angústia para decidir se se lança na
empreitada do lado do fulano ou do beltrano. Opções ideológicas,
programas partidários, planos de governo, isso aí é bobagem, vale
mesmo apenas como peça de campanha para ser mencionada nos programas
do Horário Eleitoral Gratuito, que de grátis só tem o nome.
Resumindo
e já passando a régua, até que chegue o dia 7 de abril, muita água
haverá de passar por debaixo da ponte. E o pior é que o eleitorado parece não se importar muito com essa prática ou modo de fazer política, imagino. Pois é, mas uma coisa é certa, todos
os envolvidos estão agindo guiados pelo elevado senso cívico de
cada um e “pelo bem do povo, principalmente os brasileiros e
brasileiras mais sofridos”. Acredita nisso, internauta incrédulo?
Nem eu.
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