Que tempos são esses?
Nos
discursos políticos é pauta sempre presente, porém na prática,
muitas vezes, acaba desvalorizada e esquecida em detrimento a outros
interesses.
Há
pouco mais de um mês, aqui mesmo em Curitiba, a convite da UNESCO,
tive a oportunidade de encontrar com outros pensadores e discutir
sobre o Futuro da Educação para o Desenvolvimento Sustentável.
Frente à minha trajetória de mais de vinte anos trabalhando com
educação, alguns pontos abordados naquele encontro me levaram a
repensar a questão.
Em
tempos de globalização, nosso cotidiano é carregado por uma
avalanche de informações. Reviravoltas políticas, crises
humanitárias, mudanças econômicas, acidentes naturais, novidades
tecnológicas formam um turbilhão de notícias que preenchem nossas
mentes, não nos deixando refletir sobre que tempos são esses.
Quando
pensamos em educação, os dados assustam. São tempos em que o
Brasil está no grupo dos 10 piores sistemas educacionais, com
alarmantes 2,5 milhões de crianças e jovens fora da escola. Tempos
em que somos a 56ª nação no ranking que avalia o desempenho dos
países quanto aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ficando
atrás de nossos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai. Tempos em que é
preciso que uma menina de 20 anos, Muzoon Almellehan, refugiada
Síria, relembre ao mundo que “a educação é a melhor arma para
nos ajudar a lutar por nossos direitos e alcançar nossos sonhos”.
As
articulações desenhadas naquele encontro deixam claro que existe um
real interesse e uma forte movimentação que almeja evoluir de forma
mais prática em projetos que objetivam tornar a educação não só
acessível às diversas camadas da sociedade, mas garantir sua
qualidade e capacidade de promover mudanças positivas. Nesse
sentido, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ou Agenda
2030 da ONU – ressaltam a necessidade da promoção de uma educação
inclusiva, igualitária e baseada nos princípios de direitos humanos
e do desenvolvimento sustentável.
Não
considerando apenas os anos primários, mas dedicando atenção
especial também à educação técnica, profissional e superior no
sentido de desenvolver nos jovens e adultos habilidades e
competências à altura das demandas da era de inovação em que
vivemos. Como membro do Pacto Global desde 2004 e participante da
força tarefa que traçou os Princípios para a Educação Executiva
Responsável - ambas iniciativas da Organização das Nações Unidas
– compartilho de verdadeiro desafio que consiste em aproximar as
escolas das empresas.
A
educação para a liderança globalmente responsável exige
dedicação, aculturamento, constante demonstração e valorização
de resultados intangíveis. Alinhar os discursos entre o que é pauta
nas escolas e universidades e as práticas corporativas é primordial
para alcançarmos uma sociedade mais engajada e atenta aos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável.
Falar
em educação do futuro é pensar e promover a capacitação e o
empoderamento para novos tempos. Mais que isso, a educação para o
desenvolvimento sustentável é a ponte para estilos de vida
sustentáveis e para o alcance de outros fatores fundamentais como os
direitos humanos, a igualdade de gênero, a promoção de uma cultura
de paz e não-violência, a cidadania global e a valorização da
diversidade cultural.
A
educação tem o poder de transformar realidades e mudar o curso da
história. É fundamental para a construção de um mundo mais justo
e sustentável. Um mundo fundamentado em um novo tempo que independe
exclusivamente de questões financeiras e interesses individualistas.
Um tempo em que a educação seja, verdadeiramente, prioridade. Nos
discursos políticos é pauta sempre presente, porém na prática,
muitas vezes, acaba desvalorizada e esquecida em detrimento a outros
interesses.
Em
tempos de engajamento social, acompanho o clamor cada vez mais forte
da população por mais atenção à educação. Porém, é tempo de
evoluir e transformar a realidade do Brasil. A sociedade demanda por
respostas mais contundentes e exige mudanças reais.
Norman
de Paula Arruda Filho é Presidente do ISAE – Escola de Negócios,
conveniado à Fundação Getulio Vargas, Professor do Mestrado em
Governança e Sustentabilidade do ISAE/FGV, e Coordenador do Comitê
de Sustentabilidade Empresarial da Associação Comercial do Paraná
(ACP).
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