Por falar em Lua crescente


Diocrécio não sabe apreciar um luar bonito feito o desta noite





Diocrécio Setúbal e Serafim dos Prazeres são irmãos, filhos do casal Hermenegildo e Sebastiana. Ninguém entende porque eles deram sobrenomes diferentes para os dois primeiros filhos, de um total de sete. Convém dizer que o Hermenegildo é Costa e a Sebastiana é dos Santos. Certa vez até tentei arrancar do “Seu Nenê” (Ah, sim! O Hermenegildo carrega o apelido de Nenê, desde pequenininho e o engraçado é que ele se tornou um homenzarrão de quase dois metros de altura) o motivo dos meninos mais velhos não terem o mesmo sobrenome das demais irmãs (Marinalva, Belarmina, Alfonsina, Luzenir e Custódia), qual seja, “dos Santos Costa”. A conversa foi boa, como sempre. “Seu Nenê” falou inclusive sobre a seleção brasileira de 1962, mas nada disse a respeito do que me interessava de verdade. Deixei de lado, parei de insistir nisso, pois eu e o saudoso Belchior não entendemos muito bem “esses casos de família e de dinheiro”. Ocorre que o Diocrécio é muito diferente do Serafim, fisicamente e quanto à personalidade inclusive. Serafim aproxima-se de ser até fanfarrão e critica a sisudez do irmão, dizendo que o Diocrécio é igual ao porco, que anda de cabeça baixa e passa batido sem ver um luar bonito como o desta noite em que a Lua está crescendo, a um dia de ficar cheia. Vixe, Maria! Diocrécio apela feio em circunstâncias assim. O Diocrécio costuma falar que isso de ficar olhando para Lua nem é coisa de homem. Ele é bruto, às vezes. O Serafim, por sua vez, leva tudo na esportiva e toca a vida. E eu, que não sou bobo nem nada, fico na minha, observando. Acho melhor não irritar o Diocrécio, mas o Serafim tem lá sua razão, a Lua desta noite realmente está uma belezura de dar gosto. E desde o finalzinho da tarde, diga-se. Pior para o Diocrécio, não saber apreciar um luar bacana feito o que está ali no céu agora.


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