A carne é fraca
Agir
movido pela emoção é trair seus objetivos financeiros
Lucas Vidigal: Agir movido não faz bem às finanças. (Foto: Divulgação) |
Nos
últimos anos, o ramo das finanças comportamentais, ou behavioral
finance,
em inglês, tem ganhado evidência no cenário econômico. O Prêmio
Nobel de Ciências Econômicas de 2017 foi concedido a Richard
Thaler, “por suas contribuições à economia comportamental”.
Segundo um dos membros do comitê do Prêmio, “ele tornou a
economia mais humana”. As recentes mudanças no quadro econômico
brasileiro, com os juros mais baixos já vistos no país, e a
expressiva valorização da bolsa nos últimos anos, chegando à sua
máxima histórica, reforçam a importância do tema para o
investidor brasileiro.
Um
excelente case de como o investidor pode se boicotar na busca por
maiores retornos é o de Peter Lynch, que ficou famoso pelo seu
impressionante track
record de
mais de 29% ao ano quando esteve à frente do Fundo Magellan, da
gestora americana Fidelity, entre 1977 e 1990.
Os
princípios da filosofia de investimentos de Lynch são bastante
simples e são compartilhados por alguns dos maiores e mais famosos
investidores globais, como Warren Buffet e Florian Bartunek. Estes
profissionais não se propõem à infeliz tarefa de adivinhar o
timing
exato
de compra ou venda dos ativos de sua carteira. Apenas investem em
boas empresas, cujos negócios lhes são familiares, compreendem bem
e entendem possuir boas chances de superar os desafios e crises que
inevitavelmente virão, se sobressaindo com relação aos
concorrentes, se fortalecendo e crescendo no processo.
Por
mais simples que pareça, esta disciplina não é tão comum para a
maioria das pessoas. Prova disso é o fato de que a maioria dos
investidores do fundo Magellan, durante a gestão de Lynch, na
verdade perdeu dinheiro. Parece improvável que tantos investidores
de um fundo que rendeu impressionantes 29% ao ano durante mais de uma
década tenham perdido dinheiro com suas aplicações neste produto.
Mas foi o que aconteceu.
O
motivo para este resultado aparentemente paradoxal está à margem de
qualquer controle dos gestores profissionais, por melhor que sejam: o
comportamento dos investidores. Movidos por sentimentos perfeitamente
naturais a todas as pessoas, os investidores deste fundo acabavam
cedendo ao otimismo exagerado influenciado pela euforia dos
resultados positivos dos períodos de valorização do fundo,
entrando “na alta”; da mesma forma como cediam rapidamente ao
medo irracional em períodos de correção de mercado, quando as
cotas se desvalorizavam, saindo “na baixa”.
As
emoções vivenciadas pelas pessoas em seus investimentos passam por
diversas fases, sempre alternando-se em altos e baixos. O tamanho
desse ciclo pode variar em tempo, podendo levar anos, meses ou até
mesmo algumas poucas semanas. Dependendo da intensidade, essas
emoções podem prejudicar a racionalidade do investidor, levando a
decisões equivocadas que podem resultar na redução dos retornos ou
até mesmo a perdas financeiras.
Essas
decisões equivocadas por parte dos investidores estão na raiz do
case do fundo Magellan, administrado por Peter Lynch. Movidos
por estes sentimentos, eles investiam nas épocas de otimismo e
euforia, mas retiravam seu recurso nos primeiros momentos de
desconforto, motivados pelo medo ou desespero.
Para
evitar se trair, o investidor deve primeiro conhecer o produto ou
ativo no qual está aplicando. A decisão deve ser fundamentada por
uma escolha racional com relação à qualidade e confiabilidade do
investimento, que passa necessariamente por uma análise aprofundada
e objetiva do ativo, e não por sentimentos momentâneos e
irracionais, ou pela tentativa de se acertar “o ponto certo” de
entrada ou de saída.
Em
momentos de retomada da economia brasileira, onde os preços dos
ativos financeiros já responderam de maneira significativa a uma
expectativa de crescimento no ciclo econômico, é fundamental que os
investidores estejam conscientes dessas armadilhas às quais estão
sujeitos. Agir movido pela emoção é trair seus objetivos
financeiros.
Lucas
Vidigal é
diretor da Scopo
Finanças Pessoais
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