Operação Vendilhões analisa movimentação financeira de R$ 1,7 bilhão de entidades religiosas
A investigação buscou apurar o proveito eminentemente econômico da fé e da devoção de milhares de pessoas respaldado nas doações para a construção da nova Basílica de Trindade e no atendimento aos fiéis
Entrevista coletiva da Operação Vendilhões. (Foto: João Sérgio) |
Possíveis crimes de apropriação indébita, lavagem de capitais, organização criminosa, sonegação fiscal e falsidade ideológica praticadas pelos dirigentes das três associações ligadas à Igreja Católica em Trindade, que recebiam doações em dinheiro de fiéis, estão sendo investigados pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), por intermédio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), na Operação Vendilhões. Foram bloqueados judicialmente R$ 60 milhões em bens imóveis e valores em contas bancárias dos envolvidos.
De acordo com o promotor de Justiça Sebastião Marcos Martins, que coordenou a ação, deflagrada na manhã desta sexta-feira (21/8), está sendo analisada uma movimentação financeira equivalente a R$ 1,7 bilhão. Segundo ele informou durante entrevista coletiva realizada na tarde desta sexta-feira (21/9), a fraude não atinge o montante na sua íntegra, mas, a partir da documentação apreendida, será possível definir o valor que foi desviado. Teriam sido beneficiados com o desvio o padre Robson de Oliveira Pereira, que preside a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) – CNPJ nº 06.279.215/0001-70 –; Associação Filhos do Pai Eterno e Perpétuo Socorro – CNPJ nº 11.300.117/0001-07 –, e Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro – CNPJ nº 11.430.844/0001-99 –, e uma rede de empresas e pessoas que foi criada para a realização das possíveis fraudes.
A investigação que resultou na Operação Vendilhões teve início em 2019, a partir da condenação de um grupo criminoso que praticou extorsão contra padre Robson. Na ocasião, cinco pessoas exigiram mais de R$ 2 milhões para que não fossem divulgadas imagens e mensagens eletrônicas com informações pessoais, amorosas e profissionais que prejudicassem a imagem do religioso (Saiba Mais). O processo foi enviado ao Gaeco para apurar a origem do dinheiro utilizado para pagamento de parte do valor ao grupo criminoso.
Teia
financeiraNa
análise da movimentação financeira das Afipes, o Gaeco descobriu,
segundo Sebastião Marcos Martins, uma grande teia de movimentações
financeiras, envolvendo a compra e venda de imóveis – casas,
apartamentos e fazendas – em Goiás e outros Estados, além de
transferências de valores entre contas bancárias. De acordo com o
promotor de Justiça, as três associações recebiam dinheiro
separadamente, proveniente de doações de fiéis, e transferiam os
valores com a utilização de contas bancárias de terceiros. As
associações passaram a ser administradas como verdadeiras empresas,
explicou.
Na operação, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão na sede das associações, empresas e residências em Goiânia e Trindade, expedidos pelo Juízo da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais, em decisão da juíza Placidina Pires. Foi encontrado dinheiro nos locais das buscas e apreensões, cujo valor ainda está sendo contabilizado. Participaram da operação 20 promotores de Justiça, 52 servidores do MP-GO, 4 delegados, 8 agentes da Polícia Civil e 61 policiais militares.
Doações
de fiéisDurante
a entrevista coletiva, o procurador-geral da Justiça de Goiás,
Aylton Flávio Vechi, afirmou que a investigação buscou apurar o
proveito eminentemente econômico da fé e da devoção de milhares
de pessoas, respaldado nas doações para a construção da nova
Basílica de Trindade e no atendimento aos fiéis. Segundo ele,
faz-se necessário garantir a reparação dos danos que podem ter
sido causados pela conduta.
O secretário de Segurança Pública, Rodnei Miranda disse, na entrevista, que o volume de recursos em investigação pressupõe algum tipo de ilegalidade cometida pelos dirigentes das Afipes. Também estavam presentes o coordenador do Centro Integrado de Inteligência do MP-GO e do Gaeco, Rodney da Silva; os promotores de Justiça Gabriella de Queiroz Clementino, José Humberto Nunes Nogueira, Juan Borges de Abreu, Marcelo Crepaldi Dias Barreira e Sandro Henrique Silva Halfeld Barros, e o delegado da Polícia Civil Alexandre Lourenço.
(Texto: João Carlos de Faria – Fotos: João Sérgio/Assessoria de Comunicação Social do MP-GO)
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