Estudar
na França é aproveitar rara oportunidade de crescimento
profissional, acadêmico, cultural e pessoal.
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Ana Clara, estudante de Engenharia Naval. (Foto: Reprodução) |
Ana
Clara Brasil dos Santos (22), estudante trindadense, filha do Wilmar
Brasíl dos Santos, advogado e contador, falecido, e da professora
Iraídes Alves Assunção, foi se formando no início em Trindade, no
Colégio Aphonsiano (educação
infantil até o quinto ano),
depois seguiu para Goiânia passando por escolas
como Omni (sexto ao nono ano) e Colégio Visão (ensino médio). Fez
opção pouco comum diante do cardápio de cursos de nível superior
mais presentes na vida dos estudantes goianos. Ana Clara decidiu
estudar Engenharia Naval e Oceânica na Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Talvez seja essa aí uma de suas “ideias
malucas” como se refere na entrevista, às opções que tem feito,
contando sempre com o apoio da família, especialmente de sua mãe.
Pensa que foi fácil para a mãe? “Não, Não foi fácil. Afinal de
contas, Ana Clara só tinha 17 anos quando foi morar no Rio de
Janeiro sozinha. Mas o dever de mãe é apoiar os filhos em suas
decisões”, afirma Iraídes Alves. Desde agosto deste ano, em
tempos de pandemia do novo coronavírus, eis que surge uma
oportunidade dessas imperdíveis de se aprimorar mais ainda nos
estudos, preparando uma carreira no exterior inclusive. E lá foi Ana
Clara estudar Engenharia, na França, mais especificamente em Brest,
uma
importante cidade universitária do Oeste da França. Novamente, sua
mãe não titubeou e deu apoio a mais essa “maluquice” da filha
caçula. “Da mesma forma apoiei a ida para a França”, afirmou
Iraídes Alves. De agora para frente é estudar e se preparar, pois
Ana Clara tem foco na profissão além-fronteiras. “Daqui em diante
estarei também de olho no mercado naval europeu”, declara a
estudante. A gente conta um pouco dessa história pela própria
personagem, até mesmo como incentivo aos outros estudantes para que
acreditem nos seus sonhos, projetos ou “ideias malucas” mesmo.
Leia a seguir a entrevista exclusiva.
Blog
- O
que lhe motivou a sair do país para se capacitar?
Ana
Clara - A minha maior motivação é a oportunidade de
crescimento: profissional, acadêmico, cultural e pessoal. Estudando
engenharia na França, estou me inserindo no mercado internacional.
Com o diploma francês poderei atuar como engenheira em toda a
Europa. Não apenas, estarei ainda obtendo o grau chamado de
“Master”, abrindo as portas para um doutorado em seguida. Além
disso, estudar em um outro país é uma experiência única. Às
vezes, ainda me pego pensando: “calma aí, eu realmente estou na
França”. Não é só uma outra língua, é um novo povo, uma nova
história, uma outra tradição. Esses dias descobri que o voto na
França não apenas é facultativo, como é feito em cédula de
papel. Algo aparentemente tão simples, mas que diferencia toda a
mentalidade de um povo em relação à política. A capacitação que
estou recebendo vai além do diploma, a adaptação a um novo modo de
vida, a milhares de quilômetros da família, em um sistema
educacional completamente diferente é realmente um desafio
enriquecedor.
Blog
- Qual é mesmo a área de atuação?
Ana
Clara - No Brasil, eu curso Engenharia Naval e Oceânica na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na França, estou
cursando Arquitetura Naval e Offshore. Um engenheiro naval
pode atuar em portos, estaleiros, área de exploração de petróleo,
pesquisas acadêmicas, sociedades reguladoras, entre muitos outros. É
realmente uma área muito rica e diversa da engenharia.
Blog
- Você conseguiu bolsa de estudos integral para essa empreitada?
Ana
Clara - O programa de intercâmbio que estou participando se
chama BRAFITEC, é um acordo entre os governos brasileiro e francês
com financiamento da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Através dele, recebi uma bolsa de estudos que cobre 100% da anuidade
do curso. Normalmente, esse programa fornece também um auxílio para
o custo de vida, mas que infelizmente está suspenso por conta da
pandemia.
Blog
- Qual será a duração do curso?
Ana
Clara - No total serão 2 anos, 3 semestres de curso e 1 semestre
de estágio, podendo ser em qualquer país do mundo.
Blog
- Onde você está morando e estudando?
Ana
Clara - A Universidade se chama ENSTA Bretagne, fica na cidade de
Brest, região da Bretanha, oeste da França. Brest é uma pequena
cidade universitária, conta com menos de 150 mil habitantes, mas tem
um peso muito importante para os franceses, já que a cidade foi
bombardeada durante a segunda guerra e teve de ser reconstruída às
pressas pelos Estados Unidos pela sua importância estratégica.
Blog
- Como foi a sua graduação, o que lhe inspirou a escolher a
engenharia naval?
Ana
Clara - Quando estava no ensino médio, meu pai me contou sobre
um curso de engenharia em um instituto militar e fui procurar saber
melhor. Não fui para um instituto militar, mas acabei conhecendo a
Engenharia Naval e fiquei encantada com a possibilidade de projetar
gigantes do mar que estão por trás de toda a nossa economia. O
começo da universidade de Engenharia em geral é muito complicado:
são 4 cálculos, 4 físicas e você fica se perguntando quando vai
poder botar a mão na massa. Mas quando essa parte chega, é
realmente incrível. Tive a oportunidade de participar de eventos
proporcionados pela minha universidade, conhecer muitos profissionais
dedicados no crescimento da nossa área e ver de perto a evolução
da ciência no nosso país.
Blog
- Qual a perspectiva de trabalho, de carreira, que você tem hoje em
dia?
Ana
Clara - Hoje em dia, no Brasil, a Engenharia Naval está passando
por um período complicado. Principalmente no Rio de Janeiro, onde o
mercado era dedicado a Petrobras que por motivos políticos está em
crise. Mas ainda existem grandes polos industriais no nosso país,
como o Porto de Santos, em São Paulo, o Porto de Itajaí, em Santa
Catarina e os estaleiros no Norte do país. Além disso, como eu
disse anteriormente, daqui em diante estarei também de olho no
mercado naval europeu. Especificamente na França, existe um foco
especialmente na construção de embarcações militares e de luxo
(iates, cruzeiros).
Blog
- Seu plano prevê retorno para o Brasil ou já pensa em ficar por
aí?
Ana
Clara - Ao fim do meu curso aqui, ainda preciso retornar para o
Brasil para obter o meu diploma de engenheira pela UFRJ. Daí para
frente são águas incertas, depende muito de como estará o mercado
internacional pós-pandemia.
Blog
- Qual o maior obstáculo que você enfrentou para chegar aí na
França?
Ana
Clara - O frio! A cidade em que eu moro é especialmente mais
fria, até mesmo para os franceses. É uma região litorânea que
chove bastante. Tem história aí de meses que só fizeram 2 dias de
sol. Ainda estamos no outono e a máxima tem sido 14°C.
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Alunos de vários países, estudando em Brest, na França. |
Blog
- Já está dominando bem o idioma daí?
Ana
Clara - Cada dia é um progresso. Quando os franceses conversam
entre eles, com bastante gírias e mais acelerado, fica complicado
mesmo de acompanhar. Por outro lado, para as aulas e as demandas do
dia-a-dia já estou acompanhando bem, mas sempre com o Google
Tradutor do lado. Aqui na universidade somos muitos alunos
internacionais, tem gente da Itália, do Líbano, da Argentina, então
eles estão acostumados a receber estrangeiros e nos dão um suporte
enorme. Temos aulas semanais de francês em que podemos tirar
dúvidas, tanto sobre algumas expressões novas que ouvimos, quanto
sobre algum hábito francês inusitado. Temos aulas de projeto em
grupo em que colocam um aluno internacional por grupo para que
possamos nos integrar melhorar e praticar melhor a língua. E isso
faz uma diferença enorme. Até então, os franceses, têm sido
bastante pacientes comigo em relação ao idioma, diferentemente do
que me falaram antes de vir. Sempre que podem, falam com mais
clareza, explicam novas expressões e sempre gostam de ouvir um pouco
sobre o Brasil também.
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- Você tem alguém como modelo a ser seguido?
Ana
Clara - Se eu não colocar a minha mãe aqui, ela me manda um
áudio brava. Mas com certeza, minha família. Meus pais sempre
estimularam a mim e a meu irmão a corrermos atrás daquilo que
queremos através dos estudos. Poder contar com o apoio deles para
todas essas ideias malucas que eu tive no meu percurso foi essencial.
O meu maior projeto é poder dar orgulho para eles, poder retribuir
toda a confiança que estão colocando em mim e que me permite estar
aqui hoje. Cada um da minha família está batalhando pelos seus
sonhos e ganhamos muita força um pelos outros.
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