A insegurança alimentar aumenta no país e a fome afeta 33 milhões de brasileiros

Doutor em desperdício de alimentos, o rotariano Gustavo Porpino afirma ser “inadmissível para um gigante do agro ter tanta gente sem ter o que comer”

Gustavo Porpino. (Foto: Reprodução)


Foi divulgado, nesta quarta-feira (8), o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. A pesquisa coletou dados entre novembro de 2021 e abril de 2022, tendo feito entrevista sem 12.745 residências, de zonas urbanas e rurais, de 577 municípios, em 26 estados e no Distrito Federal. E o documento revela que a fome avança no país, atingindo algo como 33 milhões de pessoas. As regiões Norte e Nordeste são as mais impactadas, pois em seis de cada 10 lares as pessoas vivem às voltas com a preocupação com a falta de alimentos.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelos seus indicadores de insegurança alimentar mostram bem que a situação já vinha piorando no país há, pelo menos, nove anos, mas a pandemia imprimiu cores dramáticas no quadro geral da alimentação das famílias. O estudo divulgado revela que 58,7% da população brasileira convive com algum tipo de insegurança alimentar, seja de forma leve, moderada ou grave. Em números absolutos, o país tem 125,2 milhões de brasileiros nessas condições, um aumento de 7,2% em relação a 2020, o marco do início da pandemia da Covid-19 em terras brasileiras.

A insegurança alimentar faz parte dos estudos de Gustavo Porpino, pesquisador da Embrapa, com doutorado no estudo do "Desperdício de alimentos em domicílios de renda média baixa: uma análise qualitativa de antecedentes e uma tipologia de desperdiçadores de alimentos", e associado ao Rotary Club de Brasília International. “Este é um tema que me toca como pesquisador, rotariano e cidadão. Combater a fome também faz parte da missão do Rotary”, afirma. O pesquisador destaca o efeito nocivo para qualquer país que tem uma população com a nutrição no nível indesejado. “Um país mal nutrido perde capacidade empreendedora, eleva gastos com saúde e não se desenvolve no ritmo desejado. 2022 já é o décimo ano em sequência com piora dos níveis de insegurança alimentar no Brasil. Temos uma década perdida, com piora acentuada nos últimos 3 anos”, argumenta.

Porpino salienta que se dá pouca importância na busca de solução para a questão da insegurança alimentar porque isso está longe das pessoas que decidem. “Mas parece ser um problema que importa pouco, por ser distante dos tomadores de decisão, e não alinhado ao mainstream. Quando o problema afeta o mainstream, como no caso recente da alta de preços dos fertilizantes, a mobilização para solucionar é mais rápida”, destaca. Porpino comenta também que não se deveria admitir a falta de alimentos para as pessoas sendo o Brasil um dos grandes produtores mundiais de alimentos. “Inadmissível para um gigante do agro ter tanta gente sem ter o que comer. É um problema que passa pelo fortalecimento de políticas públicas”, conclui.


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