”Entretenimento" ou Ofensa? Racismo na Cultura Digital e Esportiva Moderna

O racismo não tem lugar no nosso mundo e é responsabilidade de todos nós garantir que seja erradicado de uma vez por todas


Nas últimas semanas, um par de casos de racismo tem capturado a atenção do mundo, realçando uma verdade sombria: mesmo em 2023, o racismo continua a infestar nossos espaços públicos e privados, desde o estádio de futebol até a loja de aplicativos no nosso smartphone.

O primeiro caso diz respeito ao jogador brasileiro Vinícius Jr, atacante do Real Madrid e da Seleção Brasileira. Durante um jogo contra o Valencia no estádio Mestalla, Vinicius foi alvo de insultos racistas dos torcedores rivais. Em um comunicado publicado nas redes sociais, Vinícius Jr. expressou sua decepção com a falta de ação da La Liga, o principal campeonato espanhol, contra os reiterados incidentes de racismo.

"Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga... Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista... Mesmo que longe daqui", escreveu o atacante.

Em vez de se solidarizar com Vinícius, o presidente da La Liga, Javier Tebas Medrano, repreendeu o jogador por suas declarações. A falta de apoio por parte do presidente da La Liga é desanimadora e exemplifica a falta de progresso nas questões raciais dentro do futebol.

O segundo incidente envolve um aplicativo móvel de nome "Simulador de Escravidão", lançado pela Magnus Games. Este "jogo" deixa os usuários simular a experiência de ser um senhor de escravos, podendo até mesmo abusar dos personagens escravizados, que são retratados como pessoas negras. A existência de tal jogo é inadmissível e aponta para uma profunda desconexão com a história de sofrimento e desumanização causada pela escravidão.

Contudo, o que é igualmente preocupante é a reação de alguns usuários deste aplicativo. Um usuário, Mateus Schizophrenic, deixou um comentário na plataforma declarando: "Ótimo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava mais opções de tortura. Poderiam estalar a opção de açoitar o escravo também. Mas fora isso, o jogo é perfeito!" Ele até mesmo deixou uma avaliação máxima.

A fala de Mateus Schizophrenic é chocante, revelando uma insensibilidade profunda com a história de opressão e sofrimento que a escravidão marcou. Suas palavras são uma dolorosa lembrança de que precisamos confrontar e denunciar o racismo em todas as suas formas.

Todos nós temos um papel a desempenhar no combate ao racismo. Precisamos rejeitar atitudes como as de Mateus Schizophrenic e promover uma cultura de respeito e igualdade. Devemos apoiar figuras públicas como Vinícius Jr. que enfrentam o racismo, e também exigir que os órgãos governantes e empresariais tomem medidas concretas contra o racismo, seja no esporte, nos videogames ou em qualquer outro setor.

A história do racismo é longa e dolorosa. Desde a época da escravidão, passando pelas leis segregacionistas do século XX, até os eventos contemporâneos que citamos, o racismo tem sido uma mancha constante na história humana. No entanto, como sociedade, temos a capacidade e o dever moral de erradicar essa prática e promover uma cultura de inclusão e respeito à diversidade.

As palavras de Vinícius Jr. e o lançamento do jogo "Simulador de Escravidão" são lembretes contundentes de que ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançar esse objetivo. O racismo não tem lugar no nosso mundo e é responsabilidade de todos nós garantir que seja erradicado de uma vez por todas.

Precisamos levar a sério as palavras de Vinicius Jr. e trabalhar para fazer com que as estruturas que abrigam o futebol, assim como outras instituições, sejam lugares onde a igualdade e o respeito são valorizados acima de tudo. Também precisamos condenar veementemente jogos como o "Simulador de Escravidão" e a atitude de pessoas como Mateus Schizophrenic, que banalizam e glorificam um período horrendo da nossa história.

Acima de tudo, devemos educar a nós mesmos e aos outros sobre os impactos destrutivos do racismo, para garantir que as futuras gerações vivam em um mundo onde a cor da pele de uma pessoa não determine como ela é tratada. A luta contra o racismo é uma responsabilidade coletiva e uma que devemos levar muito a sério.

Portanto, a partir desses incidentes, fica a lição de que, ao combatermos o racismo, devemos nos apoiar mutuamente e denunciar quaisquer atos racistas que encontrarmos, seja no campo de futebol ou no universo digital. É nossa responsabilidade garantir que nossa sociedade seja livre de preconceitos e discriminação.

Paulo Afonso Tavares é professor e jornalista, doutorando em História na Universidade Federal de Goiás e mestrando em Desenvolvimento e Planejamento Territorial na PUC GOIÁS

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