Quaresma: Um período de preparação para a maior festa cristã, a Páscoa

Quaresma é um tempo para intensificar a leitura da Bíblia, a prática de orações e a realização de obras de caridade, reforçando o compromisso dos fiéis com a vivência dos ensinamentos cristãos



ARTIGO | Paulo Afonso Tavares é professor, historiador, jornalista e cursa ainda doutorado em História na UFG e o mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial na PUC Goiás

Desde a última quarta-feira, 14 de fevereiro, a comunidade cristã em todo o mundo entrou no período da Quaresma, uma época de profundo significado e preparação espiritual que antecede a Páscoa. Tradicionalmente marcando 40 dias de reflexão, a Quaresma, sob a diretriz estabelecida pelo pontificado de Paulo VI (1963-1978), agora abrange 44 dias, estendendo-se da Quarta-Feira de Cinzas até a Quinta-Feira Santa, imediatamente antes do Domingo de Páscoa. Este período é dedicado ao jejum, à oração intensa e às obras de caridade, com o objetivo de fortalecer a fé e a devoção a Deus, bem como o arrependimento dos pecados.

A origem da palavra "Quaresma" remete ao termo latino "Quadragésima", que significa "quarenta dias", ecoando sua nomenclatura em diversas línguas como Cuaresma em espanhol, Quaresima em italiano e Carême em francês. Este período de quarenta dias tem um profundo significado bíblico, refletido em várias passagens onde o número 40 é significativo, como os 40 dias de jejum de Jesus no deserto, os 40 dias e noites do dilúvio de Noé e os 40 anos de peregrinação dos hebreus no deserto sob a liderança de Moisés.

A Quaresma é uma prática que transcende as denominações dentro do cristianismo, sendo observada não apenas pela Igreja Católica Romana, mas também pelas comunidades ortodoxas, anglicanas e luteranas. No entanto, no Brasil, onde a população evangélica é significativa, a Quaresma não é uma prática comum, visto que a tradição evangélica não se concentra em períodos específicos para jejum e oração, enfatizando que estas práticas devem ser parte integrante da vida de fé ao longo de todo o ano.

A institucionalização da Quaresma pode ser rastreada até o Concílio de Niceia em 325 d.C., um momento crucial na formação da doutrina cristã, onde, além da formulação do Credo Niceno e da determinação da data da Páscoa baseada no equinócio da primavera e nas fases da Lua, a prática da Quaresma foi mencionada pela primeira vez. Documentos da época do concílio referem-se à palavra "tessarakonta" em grego, evidenciando a prática do jejum e da penitência durante 40 dias como uma evolução das práticas cristãs antigas, incluindo jejuns preparatórios para o batismo durante a Páscoa e outros períodos de jejum mencionados por Tertuliano.

O jejum da Quaresma, com suas tradições de abstinência de carne vermelha, doces e bebidas alcoólicas, varia de acordo com a devoção pessoal, enquanto a abstinência de carne é particularmente enfatizada na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa. Essa prática de consumir peixe em vez de carne nesses dias específicos é acreditada ter origem na Idade Média. Além do jejum, a Quaresma é um tempo para intensificar a leitura da Bíblia, a prática de orações e a realização de obras de caridade, reforçando o compromisso dos fiéis com a vivência dos ensinamentos cristãos.

Assim, a Quaresma representa uma jornada espiritual rica e multifacetada, enraizada na história, na tradição e na fé, convidando os fiéis a uma reflexão profunda sobre sua relação com Deus e com o próximo, em preparação para a celebração da ressurreição de Cristo na Páscoa.


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