O sociólogo Pedro Célio lança dois novos livros primeira semana desse mês

Numa tacada só, o intelectual retoma a destruição do Monumento ao Trabalhador e aborda a movimentação dos seguidores que invadiram Brasília no 8 de janeiro

Sociólogo Pedro Célio lançando dois livros. (Foto: Reprodução)

Pedro Célio Alves Borges, sociólogo goianiense, professor aposentado que por décadas trabalhou na Universidade Federal de Goiás (UFG), intelectual inquieto e produtivo, vem brindando os goianos com seguidas publicações de várias obras de sua autoria, nos últimos anos. O mês está só começando e o sociólogo, numa tacada só, oferece ao distinto público leitor dois novos trabalhos inéditos, UM CRIME CONTRA A CULTURA E A MEMÓRIA e O PATRIOTA, O FILHO DA MÃE e Outros.

Conversamos com o autor a respeito da obra “Um Crime Contra a Cultura e a Memória”, querendo saber da expectativa em relação ao tema, ligado à gestão municipal de Goiânia, considerando que estamos em ano de eleições para vereador e prefeito. Vale lembrar que o jornal O Popular publicou grande matéria do repórter Rogério Borges a respeito do monumento ao trabalhador. Pedro Célio então no contou que:

O livro narra a trajetória do Monumento ao Trabalhador, inaugurado ao final dos anos de 1950, lá naquela praça em frente à Estação Ferroviária, quando ainda ele funcionava e por trás dela não existia toda condição urbana de expansão da cidade para o Norte que existe hoje. Já se vai muito tempo. Esse monumento ficou lá por 10 anos de maneira intocada e ele se tornou referência na vida da cidade. Era um elemento da paisagem do centro da cidade e se tornou inclusive cartão-postal de Goiânia. São vários os cartões que eu localizei em minha pesquisa.

Monumento ao Trabalhador: Destruído. (Foto: Reprodução)

Mas em 1969 ele sofreu o primeiro golpe que foi de natureza estritamente política e ideológica. Foi uma ação do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que inclusive assinou a ação, que cobriu de piche os desenhos do monumento. Eras duas estruturas de 13,60 m, cada uma delas, sobre as quais estavam esses desenhos. E ficou tudo coberto de piche. Começou ali uma série de vandalização do monumento sem nenhuma atitude das autoridades municipais do Executivo e da Cultura para recuperar o que foi danificado. No ano de 1973 houve uma segunda violência contra o monumento, porque o próprio prefeito, o senhor Manoel dos Reis, mandou raspar todas as pastilhas que não haviam se deteriorado quatro anos antes com a passagem do piche. Então aí já foi outra grande derrota. E logo depois, com o passar do tempo, lá no final de 1986, início de 1987, os cavaletes de concreto que sustentavam esses desenhos, a obra de arte, foram também derrubados.

Eu quero dizer aqui que são dois artistas de primeira grandeza que tinham essa obra de arte a céu aberto em Goiânia. Os desenhos tinham composição em mosaicos de pastilhas vitrificadas, chamadas de vidrotil, que tinham, mais ou menos, 2 centímetros quadrados cada pastilha. E, assim, isso era de autoria de Clóvis Graciano, um dos maiores artistas nesse tipo de técnica no mundo inteiro. E a parte da estrutura de concreto foi idealizada e realizada pelo arquiteto da cidade de Goiás Helder Rocha Lima e também derrubadas nessa data.

E logo depois, bem depois, quando houve muita denúncia, alguma mobilização, que não se sustentava, porque era muito difícil. Passou o tempo e numa das obras de reforma da Praça do Trabalhador, foram desenterradas ruínas daquela estrutura de concreto, lá no meio da Praça. Nós fomos atrás, os responsáveis pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), os responsáveis pela Prefeitura, atrás da Imprensa. Não teve repercussão alguma a movimentação que nós pesquisadores, alguns artistas e sindicalistas fizemos junto a esse pessoal todo. O IPHAN e a Prefeitura, que assinavam a execução da obra e já num prazo de perder os recursos que vinham do governo federal, no ano de 2018, eles imediatamente soterraram as ruínas, cobriram tudo e passou um cimento.

Hoje a gente olha lá e só tem esse cimento liso nem mais um sinal do monumento. Por isso que a gente diz que, além do crime contra a cultura, foi também um crime contra a memória. Pouquíssima gente de Goiânia e das cidades próximas sabem que esse monumento existiu. Hoje a consciência, a percepção e as reivindicações para reconstruí-lo são muito escassas. Nós estamos cientes disso. Esse livro narra em detalhes todo esse processo. O lançamento será no dia 5, lá no meu sindicato e tem 15 sindicatos apoiando a publicação do livro. São sindicatos de trabalhadores. Então eu espero que esses sindicatos, esses representantes da classe trabalhadora de Goiânia, agora assumam a causa.

O escritor nos revelou, sobre “O patriota, o filho da mãe e outros”, que o livro está sendo lançado junto com o outro por algumas intempéries que aconteceram na produção gráfica do livro “Um Crime Contra a Memória”.

Então, esse outro é um livro de contos, de ficção, são vários contos e minicontos escrito no último ano e meio e que eu consegui reunir nesse volume, que deveria sair um pouco depois do livro sobre o monumento, mas o atraso na gráfica fez com que o lançamento dos dois fosse agora. Esse conto “O Patriota” é o carro-chefe do livro e ele narra com situações curiosas e com alguma dose de humor a movimentação daqueles que seguiram cegamente os golpistas do 8 de janeiro (2022). Foram à Brasília – DF, participaram daquela bagunça toda e aí são essas duas produções que a gente está oferecendo ao público.

Então, só reforçando, o lançamento acontecerá no Sindicato dos Docentes/UFG (Adufg), no dia 5 de abril (sexta-feira), às 19h, em Goiânia (GO). Vale a pena conferir.


Comentários

Anônimo disse…
Excelente notícia para os goianos que gostam de pensar sobre a nossa história