Sobre o som do desfile de carros de bois da festa de Trindade

No Carreiródromo Ada Cira o ecoar dos carros de bois em movimento é abafado pelo volume no talo de músicas nada a ver com o sentido do evento. Alguém precisa melhorar a trilha sonora do desfile que atrai multidões de romeiros à Trindade

Carro de boi no desfile dessa quinta-feira: Romaria de Trindade.


E Trindade mais uma vez ficou com suas ruas e avenidas da região central repleta de carreiros e cavaleiros, todos romeiros do Divino Pai Eterno, nesta quinta-feira (4), desde às 8h, para o grande evento da programação da Festa de Trindade, fora as celebrações eminentemente religiosas, o tradicional Desfile de Carros de Bois, no Carreiródromo Ada Cira, instalado no Parque Municipal Lara Guimarães.

O evento é sempre sucesso de público, uma participação maciça de carreiros (mais de 400 carros de bois desfilaram) que viajam longas distâncias para desfilar pela cidade em honra e louvor ao Pai Eterno, mantendo acesa a chama da fé em Deus que, não raras vezes, se trata de tradição familiar. Isso é algo belíssimo e que precisa ser sempre muito bem cuidado, penso, por todas as pessoas e não apenas pelos detentores eventuais do poder público municipal.

Vamos logo ao ponto que sempre deixa assessores do prefeito contrariados: bora já emitir opinião sobre o evento. Bacana locar espaços para quem quer e pode montar o ambiente ali dentro do Carreiródromo e assistir ao desfile com mais comodidade, cercado de amigos e familiares, mas permitir que todos tenham som tocando música no talo, como se diz, e seja lá o estilo que for, aí vira bagunça. Hoje o som estava tão alto que a gente quase não ouvia o zunido das rodas dos carros de bois em movimento. Sequer se conseguia bater papo com o vizinho. Com esforço, conversamos com Cezar Luiz Laureano, ex-presidente da ACIAT, que falava a respeito. “A organização precisa cuidar da questão do som, permitindo apenas o som oficial do evento. Do jeito que está vira uma bagunça”, comentou.

No desfile com a sonzeira rolando solta e no último volume, como estava hoje, a gente se esforça, gasta dinheiro, se reúne com outras pessoas mas tem dificuldade até para conversar com quem está do nosso lado. É preciso ficar um gritando no ouvido do outro para se comunicar porque alguém ao lado cismou que o gosto musical dele deve ser ouvido por todos ao redor. Não é esse o objetivo do evento, sou capaz de apostar.

A gente observa que logo na entrada do Carreiródromo há a imagem da Santíssima Trindade, vemos carreiros que ali no início do desfile tiram os chapéus em sinal de respeito. Afinal, o sentido maior do evento, penso, é mesmo a pegada religiosa. Como já dissemos, os carreiros e cavaleiros, em sua maioria, estão ali como que numa celebração da fé ao Pai Eterno. Todavia, ao adentrar no ambiente vai se deparando com a galera tocando todo tipo de música, menos alguma canção religiosa ou que evoque o sentido maior do evento. Por exemplo, hoje não ouvi a Romaria, composta e cantada pelo Walter José nem A Volta do Romeiro, do mesmo artista trindadense.

E o som alto demais da conta, imagino, não deve fazer nenhum bem aos animais, muito pelo contrário. E talvez um dos pontos que merecem receber a maior atenção por parte dos organizadores e participantes do evento seja justamente o cuidado com o bem-estar dos animais. Quanto a isso, penso, não se pode ou poderia negligenciar.

O trânsito é outro aspecto que precisa receber mais atenção dos gestores públicos municipais durante a Festa de Trindade. Deve dar um trabalhão danado cuidar do fluxo de veículos na região central da cidade no período da Romaria, mas a gente quase não vê os agentes de trânsito em ação nos pontos onde ocorrem congestionamentos, principalmente de quinta-feira a domingo, verdadeiramente o grande dia da festa.

Agora, a estrutura com aquelas tendas garantindo sombra para os carreiros, cavaleiros e muladeiros desfilarem, proporcionando mais comodidade para o público em geral, tem ficado cada vez melhor. E isso é muito positivo. No entanto, o cuidado e atenção com o som do desfile precisa ser melhorado, vale insistir. Afinal de contas, tudo isso ocorre como parte da celebração da fé e devoção de um povo simples que não mede esforços para manter viva e pujante a tradição de se cultuar o Divino Pai Eterno. E com isso me lembrei dos versos do Walter José, na já mencionada A Volta do Romeiro: “Deus pais nosso criador, Deus filho que o povo conduz, Deus Espírito do céu mandai-nos a nossa divina luz”. Taí, os versos que bem poderiam embalar o fechamento do desfile de qualquer comitiva.

Resumindo, alguém precisa se atentar para a trilha sonora do desfile que deveria apresentar ao distinto público mais o roncar dos carros de bois do que o tonitruar de músicas bate-estaca que pegam muito bem nas baladas e nos shows da galera, contudo em se tratando da também chamada Romaria dos Carros de Bois, a coisa muda de figura. Mais não digo nem me foi perguntado.


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